sexta-feira, 28 de agosto de 2015

UMA ESCOLA FELIZ

Quando se fala em escola, APP, Conselho Escolar, qualidade das escolas*, normalmente se reclama da falta de dinheiro, falta de apoio do pais, falta de cuidados com prédio e de cercania do mesmo. (Qualidade das escolas, aqui não qualidade do ensino, porque este traspassa a condição do prédio ou a quantidade de dinheiro disponível).
Assim não dá para ser feliz.
Quando falta dinheiro, a primeira pergunta é, porque falta dinheiro se tantos impostos deveriam dar conta da educação. Convencionou-se que pais iriam auxiliar o governo, fornecendo contribuição através da APP. Em outras palavras, os pais além de pagar altos impostos, deve dar dinheiro para ajudar a escola a cumprir com seus compromissos financeiros. A maioria dos pais fazem isto com muito prazer, embora esta seja totalmente facultativa. O Manual dos Conselhos Escolares do MEC diz que:
"A autonomia financeira deve possibilitar à escola elaborar e executar seu orçamento, planejar e executar suas atividades, sem ter que necessariamente recorrer a outras fontes de receita, aplicar e remanejar diferentes rubricas, tendo o acompanhamento e fiscalização dos órgãos internos e externos competentes".

"Em síntese, é obrigação do poder público o financiamento das instituições educacionais públicas e compete às escolas otimizar e tornar transparente e participativo o uso dos recursos". (Veja no fim o que representa Autonomia financeira, administrativa e jurídica da escola).
Quando se fala de falta de apoio por parte das famílias, quer se dizer da negligência por partes de alguns pais em apoiar seus filhos, tomando lições em casa, incentivando-os e coisas assim. A ausência destes na escola em dia da família, para pegar boletim, ou em comemorações, leva profissionais escolares a achar que existe falta de interesse destes na educação dos filhos.
Prédios em mal estado dão uma impressão muito má da qualidade da educação, como em qualquer outro lugar. Mas quem deve cuidar disto? Paredes mofadas, quebradas, com pinturas velhas ou pichadas passam ao observador uma impressão que o trabalho realizado ali também é assim. Os que ali trabalham também não se sentem bem.Que fazer, se já foi pedido aos órgãos competentes, mas estes prometem e demoram para tomar ação? Aqui podemos incluir as faixas e sinalização em frente da escola.

Em alguns casos a paciência pode acabar. "Em Livramento de Nossa Senhora, cansados de esperar por uma resposta do Poder Público, em demarcar as faixas de pedestres com material específico, um morador, com suposto apoio de comerciantes local, decidiu por conta própria fazer o serviço. A iniciativa foi considerada ilegal e impedida pelo Poder Público. A faixa ficou pintada pela metade, e a população aguarda que o problema seja logo solucionado", foi a notícia.
Moradores de Niterói se reuniram para pintar faixas de pedestre com o objetivo de chamar a atenção para a política de respeito aos pedestres. Após várias tentativas de conseguir a faixa de segurança para a travessia dos alunos em frente ao Colégio Portinari na rua Monsenhor Wolski em São Luiz Gonzaga/RS, foi tomado a iniciativa de os próprios alunos, que seriam os maiores beneficiados com a faixa, pintarem com tinta branca uma faixa idêntica as existentes em frente a outras escolas da cidade. 
Em Manaus, Ziza Martins, diretora geral do Centro Educacional Sandra Cavalcante, localizado na Avenida S, do Conjunto Renato Souza Pinto II, Cidade Nova, Zona Norte de Manaus, resolveu tirar do seu bolso a importância de R$ 400,00, arregaçar as mangas da camisa juntamente com seus familiares, amigos e pais de alunos e pintar a faixa de pedestre localizada frente à escola onde estudam 210 crianças de 3 a 5 da educação infantil.

Mas não precisa necessariamente  afrontar a lei. Alunos da Escola Municipal Rosa Palma Planas – Jardim Tupinambá – participaram de mais uma ação da campanha “Viva e Deixe Viver: pelo fim das mortes no trânsito”. Com apoio da equipe da Secretaria dos Transportes, os estudantes se revezaram para reforçar a pintura da faixa de pedestre, localizada em frente à escola. E, com a dificuldade da administração municipal de alavancar recursos para executar obras referentes à infraestrutura e ao trânsito de Brumado, os agentes de trânsito se apresentaram voluntariamente para pintar as faixas de pedestres. Em Santana, mutirão vai pintar e revitalizar faixas de pedestre. Equipes da Engenharia e Trafego da STTRANS, já iniciaram um mutirão para pintar faixas de pedestres entorno de diversas escolas do município; os serviços serão realizados principalmente durante o horário da noite e se não chover.

Tem solução?

Podemos ficar "felizes" com soluções que diversas escolas acharam.
Talvez a questão seja mesmo com a escola e não com quem achamos que vai solucionar nosso problema. Ainda que esperar pela solução da autoridade seja a lógica mais certa.
Numa escola em que observou-se alguns pais "mal educados" no transito, que estacionavam contra mão, saiam rápido demais e coisas assim, a escola optou por outra solução. Em vez de chamar a polícia, e, depois de conversar com estes pais, começaram "campanha" forte com as crianças, com projeto de trânsito, com ênfase em a criança lembrar a seus pais o que aprendiam. Pode não ser a solução definitiva, mas funcionou demais. A escola escolheu "ser feliz".
Algumas escolas com dificuldades financeiras, esperando que o estado conserte e pinte suas paredes, optaram por uma solução das mais instintivas. Reuniram o Conselho Escolar e pediram ajuda a comunidade que ficou de ver quais pais poderiam ajudar. Decidiu-se trabalhar em duas etapas. A primeira angariar fundos, com ajuda da comunidade. Pais iriam conversar na empresa em que trabalham, outros pais ajudariam com material próprios de sua profissão. A segunda a mão de obra com data a ser marcada depois de ter todos os materiais. Primeiro, alguns pais fizeram orçamentos com medidas e materiais. O problema era que nem todos poderiam num dia específico. Então foi feito uma lista dos apoiadores e o trabalho passou a ser realizado por grupos pequenos de pais em horários diferentes, conforme podiam.
Em outro local, "cansados" de esperar pela prefeitura que iria gastar doze mil reais com a pintura, funcionários separaram três dias da semana, parou-se o serviço, a prefeitura forneceu a tinta e eles mesmos pintaram. Nenhum era profissional da pintura, mas perguntaram, pesquisaram e realizaram a tal obra. Foi uma festa. Colocaram no Facebook as fotos do antes e do depois, houve brincadeiras, funcionários se conheceram melhor, etc. Isto foi em minha cidade, posso dizer com toda a certeza que momentos de felicidade foram constatados nesta empreitada.
Noutra escola, o Conselho Escolar, em comunicação com a comunidade, mantém um programa de manutenção do prédio e jardim escolar. A cada dois meses trabalham um sábado. Poucos vieram na primeira vez, mas como o programa continuou, pais diferentes começaram a aparecer conforme uns conversavam com outros. Vários que não tinham criança naquela escola também comparecem. Se não tem um eletricista entre os pais, um pintor ou pedreiro, estes tem parentes, amigos que ficariam felizes em colaborar. Mesmo não sabendo fazer este tipo de serviço, estar presente para ajudar indica a preocupação dos pais com a educação. E funciona mesmo.
Como está o jardim de sua escola? Vai pagar para alguém cuidar?



"Autonomia administrativa -consiste na possibilidade de a escola elaborar e gerir seus planos, programas e projetos. A autonomia administrativa da escola evita que esta seja
submetida a uma administração na qual as decisões a ela referentes sejam tomadas fora dela e por pessoas que não conhecem a sua realidade, contribuindo, desse modo, para que a comunidade escolar possa, por meio da vivência de um processo democrático e participativo, romper com a cultura centralizadora e pouco participativa em que têm sido elaborados os projetos e efetivadas as tomadas de decisões".

"Autonomia jurídica - diz respeito à possibilidade de a escola elaborar suas normas e
orientações escolares em consonância com as legislações educacionais, como, por exemplo, matrícula, transferência de alunos, admissão de professores, concessão de grau etc. A autonomia jurídica da escola possibilita que as normas de funcionamento dessa sejam discutidas coletivamente e façam parte do regimento escolar elaborado pelos segmentos envolvidos na escola, e não de um regimento único, elaborado para todas as instituições que fazem parte da rede de ensino". Conselho Escolar e Autonomia - MEC

As experiências bem sucedidas  mencionadas acima são resultados duma mudança na maneira de pensar. 
Enquanto se pensar que a escola é do governo, da prefeitura, que o diretor é quem manda e que os pais não devem interferir em assuntos escolares a menos que sejam convidados e devidamente autorizados, a coisa continuará como estão.

A instauração correta dos Conselhos Escolares muda toda esta visão.
"Instauração correta", começa antes mesmo da formação propriamente dita.
No curso que o MEC fornece, a coisa começa a funcionar pela ampla divulgação do que é o CE entre a comunidade.

Palestras, noticia na rádio, panfletos, folder, carro de som, são usados para convidar e explicar como funciona o CE, assim como convencer a comunidade que eles tem um papel importante na escola da região: tem vez e voto.
É nesta fase que a comunidade, especialmente pais de alunos, começam a entender que eles podem e devem participar ativamente e de todas as formas em assuntos da escola próxima de casa.
Na formação do CE, na escolha de membros representantes, precisa ter uma eleição séria com chapas representativas, para se eleger os mais interessados. Não pode ser indicados por quem quer que seja simplesmente. No dia da eleição a comunidade virá até a escola para votar e será registrada em ata. 
Uma vez encerrada a eleição, o CE terá seu registro em cartório, com estatuto, reuniões periódicas, pautas e atas.
Os seus membros sempre consultarão as leis federais, estaduais e municipais, assim como regimento escolar, e outras sempre que deliberarem um assunto escolar.
Todos terão direito a se expressarem, e a comunicarem e questionarem seus pares na comunidade. São membros representantes da comunidade.

É quando o CE funcionar corretamente que todos os assuntos escolares terão base concreta para resolver seus assuntos, seja pela execução de ações devidamente estudadas, seja por cobrar de outros órgãos governamentais, ou seja pelo 'fazer' dos pais, fornecendo bens e serviços de bom gradoa escola.

Sim a escola mais feliz será aquela em que há democratização de suas deliberações, e a ampla participação da comunidade "dentro" dela.
   





    



 (http://conselheiroescolar.virtual.ufc.br/)  

  

 Continua (ainda estou escrevendo)

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