A escola de qualidade começa em nossas mentes, em nossos ideais e duma ideia mui clara do que almejamos.
Sempre falamos e ouvimos dizer que com mais dinheiro (recursos diversos) a qualidade de educação no país se resolve. Que se pagar mais o professor, melhora a qualidade de ensino. Tudo parece tão simples de resolver, mas não é.
Eu vejo diferente.
Problemas que levam à má qualidade no ensino.
- Preparação para provas. É muito esquisito quando o professor fornece uma data, uma dica do que vai cair e o aluno deve "estudar" em casa. O aluno já não aprendeu em sala? Para que estudar em casa? É desumano fazer uma prova ou algum tipo de avaliação, mesmo oral, no final da aula ou no início da próxima? Ora se o aluno "aprendeu", não terá dificuldades, e nem precisará "estudar" para a prova em casa, aliás terá prazer em responder avaliação. E, se o aluno não aprendeu em sala, qual a chance de aprender ao 'estudar' em casa? E, se o aluno não aprendeu em sala, surge a oportunidade de descobrir o porquê e corrige-se na hora o problema. Se não, deve haver algum problema no processo de ensinagem. Qual seria o problema, ineficácia de quem ensina? Quantidade de alunos elevada em sala? Falta de motivação? Pouco tempo para muito conteúdo? Tinha que se inventar um método, tipo, dividir a aula em três partes (ou três aulas): primeira o professor considera o conteúdo do jeito que achar melhor, segundo se faz uma avaliação oral, conversando, sem pressão, aluno expressa em suas palavras e terceiro, uma aula para atingir os pontos em que os alunos foram mal na avaliação anterior de maneira a certificar-se que todos "apreenderam" o conteúdo corretamente. Mas o professor precisa de algo assentado por escrito, então faz uma prova final no mesmo dia. (Veja Método socrático) Que desastre seria se professoras preparassem os alunos especificamente para fazer a Provinha Brasil, para a ANA, para elevarem o índice!
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Nas escolas por onde trabalhei eu sempre fiquei impressionado com quantidade de projetos e atividades durante o ano. Muitas vezes professores estão com vários projetos ao mesmo tempo, mais os projetos de comemorações, e estes demandam uma grande quantidade de tempo e serviço, pouco ensino e muita montagem, recortes, murais, etc. Não dá tempo nem para avaliar o aproveitamento do último projeto, porque acabou, mas já tem outros em andamento e outros a começar. Uma loucura, muitas vezes se deixa de lado por um instante o conteúdo para se desenvolver trabalhos da próxima comemoração, inclusive treinamento para apresentações e ensaio de musicas afins com alunos. Vejo este como um dos principais empecilhos para a qualidade na educação. Quer fazer bem feito, faça com tempo suficiente, devagar e bem feito, para isto, enxugue, trabalhe com qualidade no pouco e bem feito.
- Em qualquer escola do Brasil, em qualquer dia, alunos são 'obrigados' a dominar milhões de informações até o dia da prova. O aluno precisa dominar todas as disciplinas ao mesmo tempo. Pegue uma semana qualquer do ano, uma escola de nível médio. O aluno precisa saber do conteúdo da semana de língua portuguesa, matemática, biologia, cidadania, filosofia, artes, sociologia, química, física, etc. O cérebro é limitado, não se pode simplesmente "socar" um monte de informações ali dentro em curto espaço de tempo. Depois da prova, do Enem, do vestibular, o cérebro apagará metade deste conteúdo que serviu apenas a este propósito. Se pegar qualquer professor (ou diretor) nesta semana e pedir para fazer qualquer prova de outra disciplina, é muito provável que não saberá. Se pedir para qualquer professor, que não seja de matemática ou física, para resolver uma simples questão de equação de segundo grau, é possível que não saiba. Mas o aluno tem que saber "tudo de todas”, cada semana, o ano inteiro.
- A quantidade e qualidade de conteúdos é imensa e algumas vezes inadequada. Por exemplo, eu, como professor de Física, exigia que todos os alunos da sala aprendessem sobre “a energia do fóton emitido na transição que vai corresponder à diferença de energia entre os subníveis atômicos”, ou seja a energia que o elétron ganha ou perde ao pular de camada. Ou nas aulas de “Ótica Geométrica”, associação de espelhos planos, espelhos convexos e lentes convergentes, saber resolver todas as formulas. Aulas 'exigidas' de alunos que jamais irão usar isto na vida, que o professor não usa, senão em aulas. Alunos que terão profissões em áreas totalmente diferentes. Eu citei só exemplos, mas existem milhares de conteúdos em todas as disciplinas que são cobrados de todos igualmente sem importar as diferenças pessoais, diferenças de talentos e o uso que estes conteúdos terão se é que terão no futuro. O tempo é curto, então alguns conteúdos, obrigatoriamente, terão que ser mitigados. Quais? Seres humanos limitados fazem assim: ou fazemos muitíssimas coisas, mal feitas, ou fazemos poucas coisas bem feitas. Na busca da qualidade na educação não será diferente.Por que há atualmente um estresse muito grande que antecede as provas do ENEM? É possível dizer que o aluno realmente aprendeu tudo em sala mas 'esqueceu? Ou que, de fato, é muita coisa para o cérebro reter?
- Alunos são tratados como verdadeiras máquinas idênticas. O professor prepara uma aula e espera que “todos” os alunos da sala aprendam aquele mesmo conteúdo. Se um deles tem mais dificuldades será rotulado de aluno 'lento' ou pejorativamente de 'gênio'. Se alguns conseguem, todos devem conseguir igualmente. E, se alguns não conseguem, o carro anda, virá o dia da avaliação, depois o conteúdo será outro e na outra semana outro, e assim vai. Alunos que vão muitíssimo bem em algumas disciplinas, não vão bem em outras. Ninguém é tão bom assim. O “gênio” é assim só numa área. A cada duzentos anos aparece um Leonardo da Vinci, que domina várias áreas, mas nunca todas. Mas a escola acha que todos tem que aprender, apreender, apropriar-se, de “todos” os conteúdos no mesmo tempo, como se tivessem cérebros produzidos em série. O nível de aproveitamento é exigido por igual de pessoas totalmente diferentes (considere isto nas avaliações escritas, mas também em todas as avaliações utilizadas na escola atual). Vejo crianças rotuladas como 'inquietas, bagunceiras', que são na verdade mais espertas mentalmente, mais curiosas, mais criativas, só que incomodam do ponto de vista do professor que não descobriu em que áreas estas se darão bem (inclusive melhor que as outras crianças). Passa-se o mesmo conteúdo, cobra-se com mesmos critérios de avaliação de alunos totalmente diferentes. "Ser diferente é legal!", mas na prática . . .
- Métodos de ensino ultrapassados. Por exemplo, um professor pergunta -Todos entenderam? - A turma responde em coro – Sim, professor! - Vejo isto o tempo todo. Alunos tímidos ficam em silêncio ou se juntam ao coro, mas 'eles não entenderam'. O professor toca a aula pra frente, muitas vezes acaba nem sabendo que “nem todos entenderam”. Outro: O professor tem uma vivência de muitos anos na escola, na faculdade, na vida, num casamento, numa roda de amigos, enfim, toda uma experiência única e rica. Ele não entende como é que estes alunos 'preguiçosos' não assimilam o conteúdo, pois o professor foi 'muito claro' em sua aula, ele acha que 'todos deviam ter entendido sim' o que ele explicou. Chamamos isto de “Discursos Que Perpassam” a abordagem em si, ou seja, como nosso interlocutor entenderá nossa fala. Quando esperamos que outra pessoa entenda exatamente assim como nós entendemos determinado ponto de vista vivemos uma ilusão, uma irrealidade (um excelente exemplo disto é a entrega duma flor pelo marido para sua amada esposa, em como cada um sente isto). Outro: Professores ainda passam o conhecimento, e a nova visão de ensino diz que o professor deve, como mediador, contribuir para que o aluno aprenda, ajudá-lo a raciocinar e chegar a conclusões. Algumas vezes talvez seja possível alunos que 'pegaram' o assunto ensinem outros alunos (com supervisão), pois quando se ensina, aprende-se. Mas se um aluno diz que não acredita, por exemplo, na Teoria da Evolução (mesmo que o professor não acredite ou não possa apresentar provas concretas), surge um mal estar, por que os livros mostram homens grotescos, hominídios peludos e encurvados, apresenta como fato e o professor somente repete. E assim será mesmo na faculdade, em que o aluno jamais pode defender 'a própria opinião”, por mais que tenha embasamento em experiências reais, em estudo de campo, em laboratório. Só será aceito quando o aluno citar um 'famoso', renomado nos meios científicos. Por outro lado, insistimos que iremos, como professores, transformar o aluno em cidadãos pensantes, reflexivos, autônomos, etc. Uma vez um aluno perguntava depois de cada exposição minha do conteúdo como ele poderia saber que aquilo era verdade. Eu acabei me irritando, achando que ele queria atrapalhar minha aula e dei um bronca nele e exigi que ficasse em silêncio dali em diante. Hoje vejo que errei, pois o professor tem a obrigação de ajudar o estudante a buscar o conhecimento, a questionar, a discordar, a não entender, a ter dúvidas, querer saber o porquê e como.
- "O aprisionamento do professor a métodos e conteúdos ditados pelas autoridades em assuntos escolares. As escolas públicas têm a sua prática pedagógica determinada ou por orientações oriundas das secretarias de educação ou pelos próprios livros didáticos. Isso resulta, na maioria das vezes, em uma prática curricular muito pobre, que não leva em conta nem a experiência trazida pelo próprio professor, nem a trazida pelo aluno, ou mesmo às características da comunidade em que a escola está inserida. Por outro lado, isso restringe a autonomia intelectual do professor e o exercício da sua criatividade. E pior: não permite que a escola construa sua identidade" - (http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=14550&chapterid=10917) . Na reestruturação da educação em diversos países, o professor tem liberdade de construir o currículo segundo as necessidades do aluno, às vezes o próprio aluno ganha certa liberdade para participar disto também.Veja reportagem "Educação Proibida"
- Acontece
que, assim como na sociedade, há uma visível fragmentação das
atividades da escola. Nela, predominantemente, os diretores
coordenam as atividades, os professores ensinam, os estudantes
estudam, os orientadores educacionais apoiam os estudantes, os
supervisores ajudam os docentes, os técnicos
administrativos cuidam da escrituração escolar e do atendimento ao
público, os funcionários fazem a limpeza e manutenção, os vigias
e porteiros cuidam da segurança da escola. Essas são as ações de
cada um desses sujeitos, mas, comumente o problema está em que essas
partes não conversam entre si, isto é, executam ações
fragmentadas e desconectadas.
A prática social da educação é um todo, com partes que se articula e se complementam. Quando as partes desse trabalho se distanciam, quando seus membros perdem a noção da totalidade e, muitas vezes percebem sua “parte” como “o todo”, a escola tende a ver seu esforço se esvair na fragmentação. Tornam-se partes que fragmentam o conhecimento. Tornam-se partes que fragmentam todos os sujeitos envolvidos no trabalho escolar. E, fragmentados, os sujeitos perdem a dimensão do viver em sociedade pois ficam individualizados nos seus desejos e lutas. Caderno 2 Conselho escolar
E qual é a solução afinal?
A PRIMEIRA SOLUÇÃO
A PRIMEIRA SOLUÇÃO
Eu aprendi muito com este filme: "A Educação Proibida".
É sobre a reestruturação da educação que acontece já por vários anos nos países da América do Sul (no Brasil mui timidamente), assim como alguns países da Europa e Japão em que se resolve justamente estas questões que mencionei acima. Este documentário é o resultado de mais de 90 entrevistas realizadas em 8 países através de 45 experiências educativas não convencionais e um total de 704 co-produtores.
Dizer que mais dinheiro melhorará a qualidade, é duvidoso. Dizer que uma determinada medida solucionará o problema só arrastará o mesmo para o futuro. Por que será que ainda não aconteceu a almejada "melhora na qualidade da educação”? Ouço falar disto a décadas.
O Conselho Escolar certamente é o primeiro passo.
Estes são órgãos máximos da gestão da escola que precisam contribuir para o processo de democratização.
Já tinha ouvido dos conselhos escolares desde a década de oitenta, me admiro como demora para pegar em todas as escolas. Sempre achei que o Conselho Escolar era muito importante para melhorar a qualidade da educação, mas achava que seu papel era de “fiscalizar e sugerir' soluções. Vi que é mais do que isto, ele tem o poder de deliberar, participar das decisões, na elaboração do regimento escolar, “consolidar a participação efetiva nas tomadas de decisões” e até mesmo “encaminhar, quando for o caso, sindicância para fins de destituição de diretor e vice-diretor da escola”, agindo “como órgão máximo de direção do Estabelecimento de Ensino”. LEI: 9.232 LEI Nº 9.232, DE 13 DE FEVEREIRO DE 1991. ESTADO RIO GRANDE DO SUL
Quanto ao CE "sua participação, nesse processo, precisa estar ligada, prioritariamente, à essência do trabalho escolar. Assim, acompanhar o desenvolvimento da prática educativa, do processo ensino-aprendizagem, é sua focalização principal, isto é, sua tarefa mais importante. Dessa forma, a função político-pedagógica do Conselho Escolar se expressa no “olhar” comprometido que desenvolve durante todo o processo educacional, tendo como foco privilegiado a aprendizagem, qual seja: no planejamento, na implementação e na avaliação das ações da escola."Veja texto "O Papel Do Conselho Escolar Na Melhora Da Qualidade De Ensino". (http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad2.pdf)
Formam o CE representantes dos professores, dos pais, dos funcionários, dos alunos e o diretor da escola.
Os conselheiros não defendem ideias próprias, mas fazem a intermediação entre a comunidade e a escola, o que significa que não vão impor sua opinião, mas trazer a comunidade para a escola. Isto que é Democracia. Por isto têm representantes de dentro e de fora da escola. A década de oitenta já se falava que o Conselho iria “ contribuir com a progressiva autonomia das unidades escolares”, cada escola servindo às necessidade de sua comunidade, o que pra mim é surpreendente. Sim porque sempre me pareceu que as decisões vinham de cima, da prefeitura, do Estado, da União e não restava o que fazer senão obedecer. Isto muda toda minha opinião sobre o assunto.
O CE, é a luz que precisamos. Eu fiquei particularmente muito feliz depois que li e reli os manuais do curso de conselheiros, assim como a legislação. Não se corrige problema algum sem saber qual é exatamente o problema. Não se corrige o problema da educação se apenas o diretor (a) manda e desmanda na escola. Não se corrige se o governo (União, Estado, Município) manda e “nóis obedece” como se fôssemos peças num jogo.
Atualmente considero a formação de CE de verdade na escola como um passo enorme em direção a tornar mais clara a razão da falta de qualidade, e o caminho justo, composto por todos, seja professor, funcionário escolar, pais e moradores, para se diagnosticar e resolver o problema de frente.
A SEGUNDA SOLUÇÃO EFICAZ
A
segunda solução é o uso anual do plano de atividade para
levantamento,
controle, solução, e manutenção de perfis escolares chamado
"Análise de Critérios de Eficiência Escolar".
Veja a segunda solução neste link:
QUALIDADE DE ENSINO E A AUTO AVALIAÇÃO ESCOLAR
Cosidere ler os manuais do MEC sobre CE:
Curso de Formação para Conselheiros Escolares
Formação para Conselheiros Escolares
Veja também:
CADÊ O CONSELHO ESCOLAR DESTA ESCOLA, GENTE?
QUALIDADE DE ENSINO E A AUTO AVALIAÇÃO ESCOLAR
EDUQUE COM EDUCAÇÃO
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