POR
QUE AS ESCOLAS FRACASSAM? EM CONSTRUÇÃO
Esta
é uma série de artigos que analisam o que levou a velha escola a
ser um sistema engessado, ultrapassado e desumano.
Em
que difere a velha escola do que preconizam idealizadores da nova
escola como Focault, Wallon, Piaget, Vygotsy, Bruner e Ausubel?
Muitas
razões do fracasso descansam na forma, na base do sistema em si,
outras se arrastam pela mentalidade do corpo docente, do que acham
serem métodos eficientes de ensino mas que são ultrapassados.
Muitas
vezes o que sugere o sistema da velha escola se conflita com atitudes
e ações da escola e do professor: ou o sistema indica métodos
excelentes e professores mal preparados, não sabedores, que agem
diferente, ou o sistema indica métodos ultrapassados que professores
tentam driblar com conceitos da nova escola e ficam amarrados e
fragilizados como "remendos novos em roupa velha".
Professores
com a mentalidade da nova escola, mesmo atuando na velha, têm tido
excelentes recompensas ao passo que vêm seus alunos usando toda
criatividade e brilhantismo, pela liberdade e carinho que estes dão
aos alunos para raciocinarem por si mesmos.
-
"Mesmo o adulto, quando está em situação de formação, eu
tenho que criar um ambiente livre de pressão, livre de
situações que provoquem medo, para que ele utilize o seu tempo
para aprender e não para vencer as emoções". -Laurinda
Ramalho de Almeida citando Carl Wallow.
ENSINO
FUNDAMENTAL
1
- Como funciona o cérebro do professor da velha escola?
A-
Ele se acha dono do saber, de sua sala e dos alunos. Se é assim, ele
é autoridade naquele recinto. Ele "está ali para mandar e o
aluno para obedecer". Ele sabe tudo, e deve ser respeitado
como tal.
B
- Embora tenha sido jovem e aluno um dia, ele marca pressão em cima
do aluno, não dá tempo para este raciocinar (enfia outra pergunta
em cima, se o aluno erra já manda uma correção), ele explica tudo
para o aluno e espera que este repita do mesmo jeito na prova. Ao
aluno é proibido de raciocinar, mas sem questionar, aceitar como
verdade absoluta o que o mestre diz. Na mente dele isto tem lógica,
afinal, o professor estudou muito (na velha escola) para saber tantas
coisas e o aluno não sabe nada.
C
- Ele vai dar uma aula para mais de uma dezena de alunos como se
estivesse falando com apenas um. Todas os diversos pensamentos e
raciocínios ali presentes deverão entender em uníssono a
explicação dele pois ele preparou a aula e espera que todos se
"esforcem em aprender" mesmo que seja uma lição
aplicada de "forma lúdica". Impõe-se então a obrigação
de a criança "aprender" o que o professor quer em meio a
uma "brincadeira", se não acontecer, o aluno não "se
esforça". Por que uma criança deveria "se esforçar a
aprender"? Entende a criança o que se requer dela, de que
está ali para "estudar" não para brincar? Entende o
professor que uma criança pode aprender brincando, mas fazer pressão
para que a brincadeira idealizada por ele resulte num
aprendizado é coisa bem diferente?
D
- No ensino fundamental, ele espera que todos estejam "em fila
do menor para o maior", em sala "sentadinhos",
"quietinhos", e comportados; que tenham a dimensão madura
de entender que estão ali "não para brincar" mas para
aprender, muito embora se preconize uma "educação em forma
lúdica". No Brasil, uma criança de quatro meses começa
uma rotina como um trabalhador de fábrica, com horários, regras e
punições. O que se passa mesmo na cabeça de criança? Ela não
entende a maior parte do que acontece. ("Vigiar e Punir,
Nascimento das prisões -1975 - Michael Focault - O autor compara a
escola a fábricas e prisões)
E
- Para "por ordem na casa" ele usa de todos os meios que
acha bom para isto, desde "berrar" até aplicar
advertências, punições, sem permitir que criança
fale ou se defenda. Este adulto não acha ser desrespeito
ser tão grosseiro com uma criança embora jamais faça o mesmo com
um adulto por achar ser falta de respeito.
Art.
18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano,
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art.
18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e
cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou
degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família
ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar
deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
F
- Deixando de fora os excessos, adultos foram acostumados a "cuidar"
das crianças com um olhar acirrado que às vezes as sufocam. Excesso
de cuidado. Perto de uma mãe, a criança ao ser perguntada sobre
qualquer coisa, primeiro olha para a mãe esperando sua aprovação.
Professores que cursaram a velha escola desde tenra idade, agora
adultos, assumem a mesma postura com seus alunos. Assumem o papel de
representantes dos "seus" aluninhos. Parece que tudo que
fizerem terão que passar pela aprovação do adulto. Com o tempo a genialidade e a criatividade das crianças vão sendo substituídas pelo domínio adulto, e, pela adolescência já desconhecem o que é ser gênio pois sua criatividade já quase nem existe mais.
G
- Quando aluninhos se engalfinham, entram em conflitos, o professor
ou outro profissional escolar resolve o assunto na hora usando sua
autoridade.
Muitos
professores da Velha Escola têm me dito que "às vezes tem
que dar um berro", que "conversar não adianta", senão
vira bagunça.
Na Nova
Escola, a conversa é que faz a diferença. Conversas respeitosas, a
criança sendo ouvida, gentilmente cuidada, tornam as mesmas dóceis
e de fácil convivência.
Quando
aluninhos se engalfinham, entram em conflitos, o professor ou outro
profissional escolar da nova escola dá dicas aos envolvidos de como
se resolverem. Por exemplo, de conversarem sem atacar a pessoa do
outro mas a ação indesejada. O adulto deixa que as crianças se
resolvam. Por fim escuta o que elas decidiram e dá mais dicas de
como fazer no futuro.
O
sujeito professor e o espaço de sala de aula
“Em
um espaço como a sala de aula há toda uma relação que já está estabelecida socialmente, ou seja, o papel de professor como
aquele que ensina e o aluno aquele que aprende, o professor fala
e o aluno ouve. Para repassar os conhecimentos socialmente adquiridos
o professor, na maioria de suas aulas, utiliza-se de aulas
expositivas e isso se deve muito mais a circunstâncias
administrativas por ser uma estratégia econômica, flexível, rápida
do que por trazer resultados positivos no que diz respeito ao
processo ensino/aprendizagem.
...
percebe-se que o uso de verbos em primeira pessoa reforça o
poder e a autoridade no discurso, como se todo o saber fosse daquele
que fala, apresentando o que se diz como incontestável (eu sei,
portanto é verdade), na fala do professor, há a voz da
experiência daquele que detém o conhecimento...
...percebe-se
que o professor impossibilita ao aluno o questionamento já que
afirma que ele já aprendeu, neutraliza o questionamento sobre
o assunto. Ao final da aula o professor lê para os alunos
questões carregadas de ironia.
Segundo
Voese(2005), a particularidade da ironia, é o fato de que ela não
dá à vítima nenhuma possibilidade de reação responsiva, de
modo que o produtor da ironia parece não visar, especificamente, ao
que se entende por interação, mas a um riso cúmplice que deve
silenciar a voz de alguém.
O
uso de frases interrogativas procura fazer com que o interlocutor se
comprometa. Há uma sequência de questionamentos, no entanto não há
respostas por parte dos alunos, o próprio professor vai respondendo
suas perguntas e dessa maneira tem a sensação de a ação desejada
é orientada, sugere aos alunos que anotem as partes que “eles”
consideram mais importantes, mas durante a aula reforça o que
considera essencial no texto. Ao perguntar sobre o texto, o professor
dialoga com o texto e não com o grupo de alunos, já que não
aguarda as respostas...
Em
outros momentos há a presença de verbos no imperativo, o que denota
o poder do discurso, não permite aos interlocutores atitude
contrária a sugerida no discurso."
(Revista
Educer Et Educare – Vol 9 2014 Unioeste – Eliane Cabral Beck)
Na escola tradicional, o professor também tem esses objetivos belos e nobres, e realmente gostaria de estar trabalhando para formar esse homem. Só que, na sala de aula, uma carteira está atrás da outra e as crianças não podem se comunicar, conversar. Cada um tem que ter o seu próprio material, não pode emprestar para o amigo. A professora é quem diz o que fazer, quando fazer, como começar, quando começar, a que horas terminar. Ela é quem determina, inclusive, a ida ao banheiro. É a própria professora que diz para as crianças quando está certo e quando está errado.
(O educador e a moralidade infantil numa perspectiva construtivista - julho/1999 - Telma Vinha)
2
- A metodologia da Velha escola
A
- O professor entra em sala, explica um assunto (como verdade absoluta) já determinado num
currículo bastante restrito, lê partes de livros que são
autoridades naquele saber, e como se não bastasse, manda que alunos
leiam em casa muitas páginas doutro livro.
B
- Ainda tem a lição de casa que tem como finalidade fixar a lição
na mente do aluno e os pais têm a obrigação de dominar a lição
pois espera que eles ajudem filhos mesmo sem ter nunca cursado
pedagogia.
C
- Alguns dias depois tem a prova que alunos farão, mas para isto são
orientados quanto ao que estudar em casa para se prepararem para a
mesma, como se as aulas fossem insuficientes para isto.
D
- O resultado desta prova é importante para a velha escola rotular o
aluno como normal, ou seja, que aprendeu aquilo que a média de
alunos deveria aprender com aquela determinada idade.
E
- Sempre têm aqueles alunos atrasados por diversas razões, que não
se interessam muito ("preguiçosos"), pois eles terão
que acompanhar os mais adiantados e ponto final.
Desde
que a criança entra na escola
A
criança, no papel de aluno, está ali para obedecer; o professor
para mandar. Isto é a Velha Escola.
Professores
que não se abaixam ao nível dos olhos da criança, que apenas
mandam e espera-se que o aluno faça. A criança é proibida de
raciocinar ou contestar. E ponto final. Ou não! A criança se
arrisca a "desobedecer", mas o professor tem na manga uma
arma poderosa: O berro! A criança assustada obedece prontamente. Ou
não! Algumas se acostumam aos berros. O berro passa longe da
didática. Pedagógico? Nem na China!
A
Nova escola tem em seus professores seres cuidadosos, amorosos, que
se abaixam ao nível dos olhos da criança. Não se isentam de se
tornar verdadeiros amigos amados da criança. E fazem o que se espera
de quem cuida com afetividade: raciocinam, conversam,
escutam seus alunos, mesmo os mais peraltas.
Há
professores assim na velha escola, mas falamos aqui dos sistemas da
velha escola e da nova. A velha entrega o conhecimento pronto e exige
que a criança assimile daquele jeito.
Na
nova, dar a criança escuta e incentivá-la a pensar por si mesma,
inclusive oferecendo escolhas para a criança fazer em vez de o
adulto resolver tudo, é proceder padrão. A criança aprende 10
vezes mais sem um adulto regulando a criatividade e o aprendizado
dela.
A
capacidade criativa, a responsabilidade pelas próprias ações, a
autonomia do aprender com mais intensidade conteúdos que englobam
seus talentos, são características da nova escola. Estas criam na
criança madureza, mentes abertas, geniais e autodidatas, não dependência de
outros para o aprendizado; desprendimento de supostas
verdades e paradigmas ultrapassados, como consequência, cidadãos
inovadores que enriquecem a sociedade em que vivem.
Professores são verdadeiros "orientadores" ou "mediadores" que cuidam com carinho das crianças.
Desenvolvendo a moral da criança
"Humano, no sentido de pessoa humanizada, merece reflexão. Será que os nossos procedimentos pedagógicos, aqueles que utilizamos em sala de aula, são coerentes com esse homem que queremos construir? Na escola tradicional, o professor também tem esses objetivos belos e nobres, e realmente gostaria de estar trabalhando para formar esse homem. Só que, na sala de aula, uma carteira está atrás da outra e as crianças não podem se comunicar, conversar. Cada um tem que ter o seu próprio material, não pode emprestar para o amigo. A professora é quem diz o que fazer, quando fazer, como começar, quando começar, a que horas terminar. Ela é quem determina, inclusive, a ida ao banheiro. É a própria professora que diz para as crianças quando está certo e quando está errado."
"Como é que queremos formar pessoas cooperativas, se um não pode ajudar o outro, porque isso é visto como ‘cola’, como uma coisa negativa? Quando escrevem, eles colocam o braço sobre o trabalho para o outro não ver. Como é que eu posso formar pessoas solidárias, se cada um tem que ter o seu, se eu não posso compartilhar os meus materiais, se eu não posso compartilhar minhas atividades com o meu colega? Como é que eu quero
formar pessoas que saibam decidir, se o professor decide até a hora das crianças irem ao banheiro, decide que atividade vai ser dada, como vai ser feita? Como é que eu quero crianças que saibam viver em uma democracia, conviver com os iguais, se eles não podem conversar?"
"A moralidade não é ensinada por sermões. A moralidade vai se dando a partir das pequenas experiências diárias que a criança tem ao se relacionar com o outro. [...] Ensinar sem permitir que eles descubram, passando os conceitos como se fossem verdades prontas, ensinando a técnica para resolver sem deixá-los resolver por si mesmos, assim o educador deixa claro que a verdade vem da cabeça do professor. Assim, o que os alunos têm de fazer, mesmo que eles não entendam, é obedecer, é aceitar a autoridade, que hoje é o professor e amanhã pode ser o diretor, o chefe, o marido, o político.
As crianças vão aprendendo a engolir sem entender. Vão engolindo e achando que é assim mesmo e quando crescem, continuam acreditando que as verdades vêm de determinadas pessoas e não questionam essas verdades." (O Educador e a Moralidade Infantil - Telma Vinha - UNICAMP)
"De acordo com Munroe
(1999), os líderes se tornam atraentes pela sua capacidade de
inspirar os outros a se tornarem o melhor que podem. São pessoas
capazes de atrair e tirar o melhor das outras pessoas. Por isso, a
necessidade de se ter lideranças com excelência nos espaços
escolares."
"Klausmeier (1977,
pp. 259-260) apud Piletti (1987, p.63) afirma que sem motivação
não há aprendizagem. Ele argumenta que professor e aluno podem ter
todos os recursos didáticos disponíveis para um bom desempenho
intelectual, mas que tudo isso será em vão se faltar a motivação.
Ele enfatiza que pode ocorrer a aprendizagem, mesmo com a falta do
professor, dos livros, da escola, sem uma porção de tantas outras
coisas, mas se houver a motivação para elevar a autoestima dos
alunos, todas estas dificuldades serão transponíveis."
(A
Importância da Autoestima do Aluno no Processo de
Ensino-aprendizagem – Teixeira, Rubio, Chaves, Silva - ISSN
(1981-2183)
Preparação
para provas
É
muito esquisito quando o professor fornece uma data, uma dica do
que vai cair e o aluno deve "estudar" em casa.
O
aluno já não aprendeu em sala? Para que estudar em casa? Seria
desumano fazer uma prova ou algum tipo de avaliação, mesmo oral, no
final da aula ou no início da próxima? Ora se o aluno "aprendeu",
não terá dificuldades, e nem precisará "estudar" para a
prova em casa, aliás terá prazer em responder avaliação. E, se o
aluno não aprendeu em sala, qual a chance de aprender ao 'estudar'
em casa? E, se o aluno não aprendeu em sala, surge a
oportunidade de descobrir o porquê e corrige-se na hora o problema.
Se não, deve haver algum problema no processo de ensinagem. O
professor usará seus truques para impedir que aluno burle, cole ou
chute na prova, fará até pegadinhas sem resultados pedagógicos
concretos.
Qual
seria o problema, ineficácia de quem ensina? Quantidade de alunos
elevada em sala? Falta de motivação? Pouco tempo para muito
conteúdo?
Que
desastre é, que alunos que passaram sua vida na escola
precisem de cursos com dicas rápidas de como se sair bem no ENEM!
A
Nova escola tem como seu principal diretriz: "Esta ação
contribuirá para o aprendizado?" "É pedagógico?"
Ela não se preocupa com "provas de que aluno
aprendeu" e avaliações desta maneira! Os alunos avaliam a
si mesmos. Aprendem a serem honestos quando vêm que isto os leva ao
progresso no conhecimento. Não se usa "prova" de
que aluno aprendeu, nem se rotula aluno pela nota que tira. Os
professores não precisam que aluno "prove" que sabe.
As
avaliações
Quando
as avaliações são por conceitos como "AO - atingiu objetivos"
ou parecidos, imputa-se à criança a responsabilidade de não ter
atingido alvos. Nos Conselhos de Classe qualifica-se a criança como
"sem interesse" ou "sem vontade". Analisemos
alguns exemplos de critérios para avaliação:
Conhece
a história da escola, identificando o motivo pelo qual recebeu o seu
nome?
Lê
e interpreta informações de tabelas e de gráficos simples?
Discrimina
sons graves, médios e agudos?
Produz
pequenos textos?
Estes
critérios deixam bastante evidente que, porquanto a criança dependa
inteiramente do professor para ensiná-la, ela só fará se receber
ensino de qualidade. A criança não vem de casa sabendo reconhecer
estes critérios, tampouco nasceu sabendo, assim irá aprender.
Se
ela não "atingir objetivo" e a resposta do professor for
"não" aos critérios, a "culpa" ou a
responsabilidade será inteiramente do professor em não ter
conseguido ensinar.
Jamais
a criança deveria ser inputada como preguiçosa, bagunceira ou coisa
assim e por isto não ter aprendido.
Em
palavras mais simples e diretas, nós, professores, não fomos aptos
para ajudá-la, pois é para isto que estamos ali.
Se
for uma criança "bagunceira" e desinteressada, não exime
isto de nossa inaptidão, mas é um desafio saudável e faz parte de
nossa profissão.
Imagina
um médico orientando sua secretária em seu consultório: Veja
quantos doentes tenho hoje para atender. Os menos graves ponha em
primeiro, depois aqueles doentes medianos. Os doente mais graves
mande embora e se forem doentes teimosos que não se cuidam, dê uma
bronca e diga para não mais aparecerem. Que médico incapaz, inapto
para a profissão!
Seguimos
com outros critérios mais abstratos:
Demonstra
interesse diante dos temas trabalhados através de questionamentos,
sugestões, opiniões?
Resolve
conflitos através de diálogo?
Consegue
resolver conflitos pessoais e do grupo?Tem concentração, boa
audição, entendimento das orientações repassadas?
Escuta,
com atenção, falas de professores e colegas?
Resolve problemas, criando caminhos para sua resolução, e que desenvolvam a iniciativa, a imaginação e a criatividade?
Estes
critérios deixam ainda mais evidente que, porquanto a criança
dependa inteiramente do professor para ensiná-la, ela só fará se
receber ensino de qualidade. A criança pode não vir de casa sabendo
reconhecer estes critérios.
Mas
neste caso, nós, professores, arguímos que deveriam vir "de
casa" sabendo, e que são os pais que devem educá-los. Pelo menos é isto que profissionais da velha escola dizem aos pais quando chamam estes à escola, que seu filho não presta atenção, que faz bagunça, etc e por isto não está progredindo. Dizem que a criança não tem vontade e que ela precisa desenvolver vontade.
No caso do último critério citado acima, . . .resolve problemas, criando caminhos. . . desenvolvendo a iniciativa . . ., o caso é que a criança já vem de fábrica com criatividade e tem iniciativa, mas o professor domina o ambiente, a criança tem que fazer tudo ao modo do professor. Como poderá aprender novamente a "desenvolver a imaginação e criatividade"?
Assim,
nos Conselhos de Classe, culpamos os pais, culpamos o desinteresse
das crianças e nos eximimos inteiramente da responsabilidade,
"fizemos tudo que podíamos", mas a "criança não se
esforça". Na entrega das avaliações aos pais,
entornamos a responsabilidade para que os pais "façam alguma
coisa em casa", como se a escola não tivesse mais esta
obrigação ou aptidão para sanar o problema. Aos pais vai a
mensagem que aluno "demonstra dificuldades na leitura e
escrita", e estes pais fazem o quê?
Primeiro eles assinam um termo de compromisso com as seguintes premissas:
"Aos
(dia, mês e ano) _______________, foi realizada a entrega do boletim
para os responsáveis do aluno(a)_________________da sala do _____
ano, juntamente com o boletim foi realizada uma conversa sobre a
aprovação do(a) aluno(a) mediante o conselho de classe."
Para
um melhor entendimento, explica-se que: "quando um(a) aluno(a) é
aprovado pelo conselho significa que não atingiu a ou as notas
necessárias no exame final e por este motivo o conselho formado
por professores e demais profissionais da escola o(a) aprovaram para
o próximo ano, por acreditarem que no ano seguinte poderá
acompanhar a turma e desempenhar um bom papel como aluno(a).
Importante salientar que o mesmo aluno(a) não pode ser
aprovado pelo conselho por dois anos, sendo assim, a família e a
criança necessitam se empenharem mais para que no ano seguinte o
educando(a) consiga obter a sua aprovação por méritos próprios.
Eu,
__________, responsável pelo aluno(a) ________ me comprometo a
acompanhar com mais afinco a vida escolar do educando(a) para
que ele(a) absorva o conhecimento necessário e obtenha aprovação
no próximo ano letivo."
Cabe aos pais se responsabilizarem pelo aluno "absorver o conhecimento necessário" para aprovação? A família não "se emprenhou" suficientemente?
Em nenhum lugar fala da escola ponderar seus métodos e analisar se poderia melhorar.
DO
FUNDAMENTAL AO ENSINO MÉDIO
Alunos
robôs?
Alunos
são tratados como verdadeiras máquinas idênticas. O professor
prepara uma aula e espera que “todos” os alunos da sala
aprendam aquele mesmo conteúdo. Se um deles tem mais dificuldades
será rotulado de aluno 'lento' ou pejorativamente de 'gênio'. Se
alguns conseguem, todos devem conseguir igualmente. E, se alguns não
conseguem, o carro anda, virá o dia da avaliação, depois o
conteúdo será outro e na outra semana outro, e assim vai.
Alunos
que vão muitíssimo bem em algumas disciplinas, não vão bem em
outras. Ninguém é tão bom assim. O “gênio” é assim só numa
área. A cada duzentos anos aparece um Leonardo da Vinci, que domina
várias áreas, mas nunca todas. Mas a escola acha que todos tem que
aprender, apreender, apropriar-se, de “todos” os conteúdos no
mesmo tempo, como se tivessem cérebros produzidos em série.
O nível
de aproveitamento é exigido por igual de pessoas totalmente
diferentes (considere isto nas avaliações escritas, mas também em
todas as avaliações utilizadas na escola atual). Vemos crianças
rotuladas como 'inquietas, bagunceiras', que são na verdade mais
espertas mentalmente, mais curiosas, mais criativas, gênios, só que
incomodam do ponto de vista do professor que não descobriu em que
áreas estas se darão bem (inclusive melhor que as outras crianças).
Passa-se o mesmo conteúdo, cobra-se com mesmos critérios
de avaliação de alunos totalmente diferentes. "Ser
diferente é legal!", mas na prática . . .
Verdadeiras
bibliotecas ambulantes
A quantidade
e qualidade de conteúdos é imensa e algumas vezes inadequada.
Por exemplo, o professor de Física, exige que todos os alunos da
sala aprendam sobre “a energia do fóton emitido na transição que
vai corresponder à diferença de energia entre os subníveis
atômicos”, ou seja a energia que o elétron ganha ou perde ao
pular de camada. Ou nas aulas de “Ótica Geométrica”,
associação de espelhos planos, espelhos convexos e lentes
convergentes, ele exige saber resolver todas as formulas.
Aulas
'exigidas' de alunos que jamais irão usar isto na vida, que o
professor não usa, senão em aulas. Alunos que terão profissões em
áreas totalmente diferentes. Existem milhares de conteúdos
em todas as disciplinas que são cobrados de todos igualmente sem
importar as diferenças pessoais, diferenças de talentos e o uso
que estes conteúdos terão se é que terão no futuro.
O
aluno passa mais de vinte anos aprendendo. Quanto ele retêm para a
vida e quanto ele usará na vida é questionável. O tempo é curto,
então alguns conteúdos, obrigatoriamente, terão que ser mitigados.
Quais? Seres humanos limitados fazem assim: ou fazemos muitíssimas
coisas, mal feitas, ou fazemos poucas coisas bem feitas. Na busca da
qualidade na educação não será diferente. Por que há atualmente
um estresse muito grande que antecede as provas do ENEM? É possível
dizer que o aluno realmente aprendeu tudo em sala mas 'esqueceu"?
Ou que, de fato, é muita coisa para o cérebro reter?
"Moreno-Marimón & Sastre (2002) numa pesquisa recente, perguntam a adultos que passaram por diferentes escolas se um determinado conteúdo aprendido em tal instituição teria hoje, em sua vida adulta, algum sentido ou, em outras palavras, teria sido utilizado fora da escola. A resposta a esta questão nos parece longe de mostrar que a escola tem cumprido seu papel formador. Perguntados sobre “quando utilizaram a raiz quadrada em suas vidas” apenas 6% dizem ter utilizado esse conceito em aplicações úteis como por exemplo, para cálculos de área, ou enquanto professores, para dar aulas particulares e outros 4% diriam que seu uso foi importante para ser usado em jogos diversos. (Bullying
e violência na escola: entre o que se deseja e o que
realmente se faz - Tognetta/Vinha)
Alunos
com cérebros geniais
Em
qualquer escola do Brasil (velha escola), em qualquer dia, alunos
são 'obrigados' a dominar milhões de informações até o dia da
prova. O aluno precisa dominar todas as disciplinas ao
mesmo tempo.
Pegue
uma semana qualquer do ano, uma escola de nível médio. O aluno
precisa saber do conteúdo da semana de língua portuguesa,
matemática, biologia, cidadania, filosofia, artes, sociologia,
química, física, etc. O cérebro é limitado, não se pode
simplesmente "socar" um monte de informações ali dentro
em curto espaço de tempo. Depois da prova, do Enem, do vestibular, o
cérebro apagará metade deste conteúdo que serviu apenas a este
propósito.
Se
pegar qualquer professor (ou diretor) nesta semana e pedir para fazer
qualquer prova de outra disciplina, é muito provável que não
saberá. Se pedir para qualquer professor, que não seja de
matemática ou física, para resolver uma simples questão de
equação de segundo grau, é possível que não saiba. Mas o aluno
tem que saber "tudo de todas”, cada semana, o ano inteiro.
Métodos
de ensino ultrapassados
Por
exemplo, depois de uma explicação em que só se ouve a voz do
professor, este pergunta -Todos entenderam? - A turma responde em
coro – Sim, professor!
Alunos
tímidos ficam em silêncio ou se juntam ao coro, mas 'eles não
entenderam'. O professor toca a aula pra frente, muitas vezes acaba
nem sabendo que “nem todos entenderam”. Só descobre na
prova, quando alunos "provam" que aprenderam.
O
professor tem uma vivência de muitos anos na escola, na faculdade,
na vida, num casamento, numa roda de amigos, enfim, toda uma
experiência única e rica. Ele não entende como é que estes alunos
'preguiçosos' não assimilam o conteúdo, pois o professor foi
'muito claro' em sua aula, ele acha que 'todos deviam ter entendido
sim' o que ele explicou. Chamamos isto de “Discursos Que Perpassam”
a abordagem em si, ou seja, como nosso interlocutor entenderá nossa
fala.
Quando
esperamos que outra pessoa entenda exatamente assim como nós
entendemos determinado ponto de vista vivemos uma ilusão, uma
irrealidade.
Proprietário
ou mediador do conhecimento?
Professores
ainda passam o conhecimento, e a nova visão de ensino diz que o
professor deve, como mediador, contribuir para que o aluno aprenda,
ajudá-lo a raciocinar e chegar a conclusões. Algumas vezes talvez
seja possível alunos que 'pegaram' o assunto ensinem outros alunos
(com supervisão), pois quando se ensina, aprende-se.
Mas
se um aluno diz que não acredita, por exemplo, na Teoria da Evolução
(mesmo que o professor não acredite ou não possa apresentar provas
concretas), surge um mal estar, por que os livros mostram homens
grotescos, hominídios peludos e encurvados, e apresentam como
fato e o professor somente repete.
E
assim será mesmo na faculdade, em que o aluno em geral não pode
defender 'a própria opinião”, por mais que tenha embasamento em
experiências reais, em estudo de campo, em laboratório. Só será
aceito quando o aluno cita 'famoso', renomado nos meios científicos.
Por outro lado, insistimos que iremos, como professores, transformar
o aluno em cidadãos pensantes, reflexivos, autônomos, etc.
Uma
vez um aluno perguntava depois de cada exposição minha do conteúdo
como ele poderia saber que aquilo era verdade. Eu acabei me
irritando, achando que ele queria atrapalhar minha aula e dei um
bronca nele e exigi que ficasse em silêncio dali em diante. Hoje
vejo que errei, pois o professor tem a obrigação de ajudar o
estudante a buscar o conhecimento, a questionar, a discordar, a não
entender, a ter dúvidas, querer saber o porquê e como.
Professores
estressados
É impressionante a quantidade
de projetos e atividades que se envolve durante o ano. Muitas vezes
professores estão com vários projetos ao mesmo tempo, mais os
projetos de comemorações, e estes demandam uma grande quantidade de
tempo e serviço, pouco ensino e muita montagem, recortes, murais,
etc. Não dá tempo nem para avaliar o aproveitamento do último
projeto, porque acabou, mas já tem outros em andamento e outros a
começar. Uma loucura! Muitas vezes se deixa de lado por um instante
o conteúdo para se desenvolver trabalhos da próxima comemoração,
inclusive treinamento para apresentações e ensaio de musicas afins
com alunos. É um dos principais empecilhos para a
qualidade na educação, mesmo que haja quem defenda como necessário
e digam que é pedagógico.
Quer
fazer bem feito, faça com tempo suficiente, devagar e bem feito,
para isto, enxugue, trabalhe com qualidade no pouco e bem feito.
Interferência
externa
"O
aprisionamento do professor a métodos e conteúdos ditados
pelas autoridades em assuntos escolares. As escolas públicas
têm a sua prática pedagógica determinada ou por orientações
oriundas das secretarias de educação ou pelos próprios livros
didáticos. Isso resulta, na maioria das vezes, em uma prática
curricular muito pobre, que não leva em conta nem a experiência
trazida pelo próprio professor, nem a trazida pelo aluno, ou mesmo
às características da comunidade em que a escola está inserida.
Por outro lado, isso restringe a autonomia intelectual do professor e
o exercício da sua criatividade. E pior: não permite que a
escola construa sua identidade" -
(http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=14550&chapterid=10917)
.
Na
reestruturação da educação em diversos países, o professor tem
liberdade de construir o currículo segundo as necessidades do aluno,
às vezes o próprio aluno ganha certa liberdade para participar
disto também.
Veja "ESCOLA DO FUTURO"
Leia: "Diretrizes para o Programa Escola Integral - São Paulo"
Espaço
Físico
Como
é usado o espaço físico da velha escola e por que muitas são
feias, pichadas e depredadas?
Ninguém
se sente dono do prédio. Quando se diz prédio público se entende
da prefeitura, estado, ou de empresa.
A
Escola pública na verdade é como uma praça pública num bairro, o
estado constrói, fornece manutenção e cuidados, mas a quem
realmente pertence? É da comunidade! E quando esta entende isto,
passa a usar e a cuidar dela como algo que lhes beneficia muito. A
comunidade é quem paga impostos para ter isto.
Na
velha escola, os pais podem não ter entendido que ela pertence a
comunidade, a eles. Numa centena de anos a escola afastou os mesmos dela. Agora acha que os pais são responsáveis por seu fracasso
porque "não dão educação em casa" para seus filhos e
esta se exime também desta tarefa. O Conselho Escolar exime a
Velha Escola, mas apenas onde é aplicado e funciona como deve.
Como é a Nova Escola?
A
Nova Escola foi devolvida aos pais. Estes são convidados a vir a
escola sempre que desejarem, e passar tempo ali. Participam das
decisões através do Conselho Escolar que os representam. Quando há
reunião do Conselho, este não decide sozinho, mas consultam os
pais, funcionários, professores e alunos antes de tomarem decisões.
Se envolver trabalho no prédio (pinturas, concertos, etc.) não são
os membros apenas que comparecem, mas toda a comunidade.
Em
muitas escolas os pais podem ficar na escola durante o período sem
nenhum prejuízo para o andamento dela, desde que não interfiram na
mesma.
A
Nova Escola coloca em prática a análise dum documento preparado
pela Velha Escola que se chama "Análise de Critérios Escolar"
em que participam todos da comunidade ao analisar e depois ao aplicar
quaisquer ações nos próximos meses.
E
o dinheiro para sustentar a educação
Para
cobrir gastos com manutenção de prédios a Velha escola não
deveria produzir sua própria fonte de dinheiro como diz o caderno 7
do MEC:
"A
autonomia financeira deve possibilitar à escola elaborar e executar
seu orçamento, planejar e executar suas atividades, sem ter que
necessariamente recorrer a outras fontes de receita, aplicar e
remanejar diferentes rubricas, tendo o acompanhamento e fiscalização
dos órgãos internos e externos competentes. Em síntese, é
obrigação do poder público o financiamento das instituições
educacionais públicas e compete às escolas otimizar e tornar
transparente e participativo o uso dos recursos. Assim, o conselho
escolar é o local apropriado de discussão e democratização do uso
dos recursos financeiros administrados pela escola."
"Assim,
no tocante à dimensão financeira, a escola passa a ser responsável
por definir ações, elaborar e executar os seus projetos educativos
e de gestão. Essa responsabilidade, diferente de antigamente, não
fica mais restrita à figura do diretor e à sua equipe de
coordenação. Todos os envolvidos direta e indiretamente são
chamados a se responsabilizar pelo bom uso das verbas destinadas à
educação.
Ao
defendermos a autonomia da escola, estamos defendendo que
a comunidade escolar tenha liberdade
para, coletivamente, pensar, discutir, planejar, construir
e executar o seu projeto político-pedagógico, entendendo que
neste está contido o projeto de educação e de escola que a
comunidade almeja."
No
entanto, a Velha Escola ainda está envolvida em bazares, grandes
festas, onde se oferecem alimentos, rifas, diversão para angariar
fundos, desviando-se de sua função. A escola não deveria precisar
"arrecadar dinheiro". Para isto, funcionários da
administração, merendeiras, agentes de limpeza e professores
gastam bastante tempo na preparação, tempo que deveria ser
usado com objetivo simples e restrito: ensinar os alunos.
A
Velha Escola tem sido criticada a mais de cem anos.
A
Nova Escola não é tão nova, tem uns cem anos.
A
Velha Escola é boa para produzir cidadão dependente do sistema.
A
Nova Escola é "perigosa" pois desenvolve cidadãos
autodidatas, questionadores, exatamente o que propõe a velha escola.
A
velha escola produz cidadãos que dependem de cursos, formações,
incentivos para se desenvolver.
A
nova produz inovações, gênios e artistas que empreendem e
transformam o mundo.
Leia
mais:
Veja
a lista de assuntos sobre velha e nova escola:
Veja
vídeo: