sábado, 7 de setembro de 2019

POR QUE AS ESCOLAS FRACASSAM - A VELHA VS A NOVA ESCOLA


POR QUE AS ESCOLAS FRACASSAM?  EM CONSTRUÇÃO

Esta é uma série de artigos que analisam o que levou a velha escola a ser um sistema engessado, ultrapassado e desumano.

Em que difere a velha escola do que preconizam idealizadores da nova escola como Focault, Wallon, Piaget, Vygotsy, Bruner e Ausubel?

Muitas razões do fracasso descansam na forma, na base do sistema em si, outras se arrastam pela mentalidade do corpo docente, do que acham serem métodos eficientes de ensino mas que são ultrapassados. 


Muitas vezes o que sugere o sistema da velha escola se conflita com atitudes e ações da escola e do professor: ou o sistema indica métodos excelentes e professores mal preparados, não sabedores, que agem diferente, ou o sistema indica métodos ultrapassados que professores tentam driblar com conceitos da nova escola e ficam amarrados e fragilizados como "remendos novos em roupa velha".

Professores com a mentalidade da nova escola, mesmo atuando na velha, têm tido excelentes recompensas ao passo que vêm seus alunos usando toda criatividade e brilhantismo, pela liberdade e carinho que estes dão aos alunos para raciocinarem por si mesmos.

- "Mesmo o adulto, quando está em situação de formação, eu tenho que criar um ambiente livre de pressão, livre de situações que provoquem medo, para que ele utilize o seu tempo para aprender e não para vencer as emoções". -Laurinda Ramalho de Almeida citando Carl Wallow.

ENSINO FUNDAMENTAL

1 - Como funciona o cérebro do professor da velha escola?

A- Ele se acha dono do saber, de sua sala e dos alunos. Se é assim, ele é autoridade naquele recinto. Ele "está ali para mandar e o aluno para obedecer". Ele sabe tudo, e deve ser respeitado como tal.

B - Embora tenha sido jovem e aluno um dia, ele marca pressão em cima do aluno, não dá tempo para este raciocinar (enfia outra pergunta em cima, se o aluno erra já manda uma correção), ele explica tudo para o aluno e espera que este repita do mesmo jeito na prova. Ao aluno é proibido de raciocinar, mas sem questionar, aceitar como verdade absoluta o que o mestre diz. Na mente dele isto tem lógica, afinal, o professor estudou muito (na velha escola) para saber tantas coisas e o aluno não sabe nada.

C - Ele vai dar uma aula para mais de uma dezena de alunos como se estivesse falando com apenas um. Todas os diversos pensamentos e raciocínios ali presentes deverão entender em uníssono a explicação dele pois ele preparou a aula e espera que todos se "esforcem em aprender" mesmo que seja uma lição aplicada de "forma lúdica". Impõe-se então a obrigação de a criança "aprender" o que o professor quer em meio a uma "brincadeira", se não acontecer, o aluno não "se esforça". Por que uma criança deveria "se esforçar a aprender"? Entende a criança o que se requer dela, de que está ali para "estudar" não para brincar? Entende o professor que uma criança pode aprender brincando, mas fazer pressão para que a brincadeira idealizada por ele resulte num aprendizado é coisa bem diferente?   

D - No ensino fundamental, ele espera que todos estejam "em fila do menor para o maior", em sala "sentadinhos", "quietinhos", e comportados; que tenham a dimensão madura de entender que estão ali "não para brincar" mas para aprender, muito embora se preconize uma "educação em forma lúdica". No Brasil, uma criança de quatro meses começa uma rotina como um trabalhador de fábrica, com horários, regras e punições. O que se passa mesmo na cabeça de criança? Ela não entende a maior parte do que acontece. ("Vigiar e Punir, Nascimento das prisões -1975 - Michael Focault - O autor compara a escola a fábricas e prisões)

E - Para "por ordem na casa" ele usa de todos os meios que acha bom para isto, desde "berrar" até aplicar advertências, punições, sem permitir que criança fale ou se defenda. Este adulto não acha ser desrespeito ser tão grosseiro com uma criança embora jamais faça o mesmo com um adulto por achar ser falta de respeito. 

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.

F - Deixando de fora os excessos, adultos foram acostumados a "cuidar" das crianças com um olhar acirrado que às vezes as sufocam. Excesso de cuidado. Perto de uma mãe, a criança ao ser perguntada sobre qualquer coisa, primeiro olha para a mãe esperando sua aprovação. Professores que cursaram a velha escola desde tenra idade, agora adultos, assumem a mesma postura com seus alunos. Assumem o papel de representantes dos "seus" aluninhos. Parece que tudo que fizerem terão que passar pela aprovação do adulto. Com o tempo a genialidade e a criatividade das crianças vão sendo substituídas pelo domínio adulto, e, pela adolescência já desconhecem o que é ser gênio pois sua criatividade já quase nem existe mais.

G - Quando aluninhos se engalfinham, entram em conflitos, o professor ou outro profissional escolar resolve o assunto na hora usando sua autoridade. 

Muitos professores da Velha Escola têm me dito que "às vezes tem que dar um berro", que "conversar não adianta", senão vira bagunça. 


Na Nova Escola, a conversa é que faz a diferença. Conversas respeitosas, a criança sendo ouvida, gentilmente cuidada, tornam as mesmas dóceis e de fácil convivência.
Quando aluninhos se engalfinham, entram em conflitos, o professor ou outro profissional escolar da nova escola dá dicas aos envolvidos de como se resolverem. Por exemplo, de conversarem sem atacar a pessoa do outro mas a ação indesejada. O adulto deixa que as crianças se resolvam. Por fim escuta o que elas decidiram e dá mais dicas de como fazer no futuro.

O sujeito professor e o espaço de sala de aula
Em um espaço como a sala de aula há toda uma relação que já está estabelecida socialmente, ou seja, o papel de professor como aquele que ensina e o aluno aquele que aprende, o professor fala e o aluno ouve. Para repassar os conhecimentos socialmente adquiridos o professor, na maioria de suas aulas, utiliza-se de aulas expositivas e isso se deve muito mais a circunstâncias administrativas por ser uma estratégia econômica, flexível, rápida do que por trazer resultados positivos no que diz respeito ao processo ensino/aprendizagem.

... percebe-se que o uso de verbos em primeira pessoa reforça o poder e a autoridade no discurso, como se todo o saber fosse daquele que fala, apresentando o que se diz como incontestável (eu sei, portanto é verdade), na fala do professor, há a voz da experiência daquele que detém o conhecimento...

...percebe-se que o professor impossibilita ao aluno o questionamento já que afirma que ele já aprendeu, neutraliza o questionamento sobre o assunto. Ao final da aula o professor lê para os alunos questões carregadas de ironia. 

Segundo Voese(2005), a particularidade da ironia, é o fato de que ela não dá à vítima nenhuma possibilidade de reação responsiva, de modo que o produtor da ironia parece não visar, especificamente, ao que se entende por interação, mas a um riso cúmplice que deve silenciar a voz de alguém.

O uso de frases interrogativas procura fazer com que o interlocutor se comprometa. Há uma sequência de questionamentos, no entanto não há respostas por parte dos alunos, o próprio professor vai respondendo suas perguntas e dessa maneira tem a sensação de a ação desejada é orientada, sugere aos alunos que anotem as partes que “eles” consideram mais importantes, mas durante a aula reforça o que considera essencial no texto. Ao perguntar sobre o texto, o professor dialoga com o texto e não com o grupo de alunos, já que não aguarda as respostas...

Em outros momentos há a presença de verbos no imperativo, o que denota o poder do discurso, não permite aos interlocutores atitude contrária a sugerida no discurso."

(Revista Educer Et Educare – Vol 9 2014 Unioeste – Eliane Cabral Beck)


Na escola tradicional, o professor também tem esses objetivos belos e nobres, e realmente gostaria de estar trabalhando para formar esse homem. Só que, na sala de aula, uma carteira está atrás da outra e as crianças não podem se comunicar, conversar. Cada um tem que ter o seu próprio material, não pode emprestar para o amigo. A professora é quem diz o que fazer, quando fazer, como começar, quando começar, a que horas terminar. Ela é quem determina, inclusive, a ida ao banheiro. É a própria professora que diz para as crianças quando está certo e quando está errado.

(O educador e a moralidade infantil numa perspectiva construtivista - julho/1999 - Telma Vinha)


 
2 - A metodologia da Velha escola

A - O professor entra em sala, explica um assunto (como verdade absoluta) já determinado num currículo bastante restrito, lê partes de livros que são autoridades naquele saber, e como se não bastasse, manda que alunos leiam em casa muitas páginas doutro livro.

B - Ainda tem a lição de casa que tem como finalidade fixar a lição na mente do aluno e os pais têm a obrigação de dominar a lição pois espera que eles ajudem filhos mesmo sem ter nunca cursado pedagogia.

C - Alguns dias depois tem a prova que alunos farão, mas para isto são orientados quanto ao que estudar em casa para se prepararem para a mesma, como se as aulas fossem insuficientes para isto.

D - O resultado desta prova é importante para a velha escola rotular o aluno como normal, ou seja, que aprendeu aquilo que a média de alunos deveria aprender com aquela determinada idade.

E - Sempre têm aqueles alunos atrasados por diversas razões, que não se interessam muito ("preguiçosos"), pois eles terão que acompanhar os mais adiantados e ponto final.

Desde que a criança entra na escola
A criança, no papel de aluno, está ali para obedecer; o professor para mandar. Isto é a Velha Escola.
Professores que não se abaixam ao nível dos olhos da criança, que apenas mandam e espera-se que o aluno faça. A criança é proibida de raciocinar ou contestar. E ponto final. Ou não! A criança se arrisca a "desobedecer", mas o professor tem na manga uma arma poderosa: O berro! A criança assustada obedece prontamente. Ou não! Algumas se acostumam aos berros. O berro passa longe da didática. Pedagógico? Nem na China!

A Nova escola tem em seus professores seres cuidadosos, amorosos, que se abaixam ao nível dos olhos da criança. Não se isentam de se tornar verdadeiros amigos amados da criança. E fazem o que se espera de quem cuida com afetividade: raciocinam, conversam, escutam seus alunos, mesmo os mais peraltas.
Há professores assim na velha escola, mas falamos aqui dos sistemas da velha escola e da nova. A velha entrega o conhecimento pronto e exige que a criança assimile daquele jeito.

Na nova, dar a criança escuta e incentivá-la a pensar por si mesma, inclusive oferecendo escolhas para a criança fazer em vez de o adulto resolver tudo, é proceder padrão. A criança aprende 10 vezes mais sem um adulto regulando a criatividade e o aprendizado dela.
A capacidade criativa, a responsabilidade pelas próprias ações, a autonomia do aprender com mais intensidade conteúdos que englobam seus talentos, são características da nova escola. Estas criam na criança madureza, mentes abertas, geniais e autodidatas, não dependência de outros para o aprendizado; desprendimento de supostas verdades e  paradigmas ultrapassados, como consequência, cidadãos inovadores que enriquecem a sociedade em que vivem.
Professores são verdadeiros "orientadores" ou "mediadores" que cuidam com carinho das crianças.

Desenvolvendo a moral da criança
"Humano, no sentido de pessoa humanizada, merece reflexão. Será que os nossos procedimentos pedagógicos, aqueles que utilizamos em sala de aula, são coerentes com esse homem que queremos construir? Na escola tradicional, o professor também tem esses objetivos belos e nobres, e realmente gostaria de estar trabalhando para formar esse homem. Só que, na sala de aula, uma carteira está atrás da outra e as crianças não podem se comunicar, conversar. Cada um tem que ter o seu próprio material, não pode emprestar para o amigo. A professora é quem diz o que fazer, quando fazer, como começar, quando começar, a que horas terminar. Ela é quem determina, inclusive, a ida ao banheiro. É a própria professora que diz para as crianças quando está certo e quando está errado."
 

"Como é que queremos formar pessoas cooperativas, se um não pode ajudar o outro, porque isso é visto como ‘cola’, como uma coisa negativa? Quando escrevem, eles colocam o braço sobre o trabalho para o outro não ver. Como é que eu posso formar pessoas solidárias, se cada um tem que ter o seu, se eu não posso compartilhar os meus materiais, se eu não posso compartilhar minhas atividades com o meu colega? Como é que eu quero
formar pessoas que saibam decidir, se o professor decide até a hora das crianças irem ao banheiro, decide que atividade vai ser dada, como vai ser feita? Como é que eu quero crianças que saibam viver em uma democracia, conviver com os iguais, se eles não podem conversar?" 

"A moralidade não é ensinada por sermões. A moralidade vai se dando a partir das pequenas experiências diárias que a criança tem ao se relacionar com o outro. [...] Ensinar sem permitir que eles descubram, passando os conceitos como se fossem verdades prontas, ensinando a técnica para resolver sem deixá-los resolver por si mesmos, assim o educador deixa claro que a verdade vem da cabeça do professor. Assim, o que os alunos têm de fazer, mesmo que eles não entendam, é obedecer, é aceitar a autoridade, que hoje é o professor e amanhã pode ser o diretor, o chefe, o marido, o político.
As crianças vão aprendendo a engolir sem entender. Vão engolindo e achando que é assim mesmo e quando crescem, continuam acreditando que as verdades vêm de determinadas pessoas e não questionam essas verdades." (O Educador e a Moralidade Infantil - Telma Vinha - UNICAMP)



"De acordo com Munroe (1999), os líderes se tornam atraentes pela sua capacidade de inspirar os outros a se tornarem o melhor que podem. São pessoas capazes de atrair e tirar o melhor das outras pessoas. Por isso, a necessidade de se ter lideranças com excelência nos espaços escolares."

"Klausmeier (1977, pp. 259-260) apud Piletti (1987, p.63) afirma que sem motivação não há aprendizagem. Ele argumenta que professor e aluno podem ter todos os recursos didáticos disponíveis para um bom desempenho intelectual, mas que tudo isso será em vão se faltar a motivação. Ele enfatiza que pode ocorrer a aprendizagem, mesmo com a falta do professor, dos livros, da escola, sem uma porção de tantas outras coisas, mas se houver a motivação para elevar a autoestima dos alunos, todas estas dificuldades serão transponíveis." 
(A Importância da Autoestima do Aluno no Processo de Ensino-aprendizagem – Teixeira, Rubio, Chaves, Silva - ISSN (1981-2183)



Preparação para provas
É muito esquisito quando o professor fornece uma data, uma dica do que vai cair e o aluno deve "estudar" em casa. 
O aluno já não aprendeu em sala? Para que estudar em casa? Seria desumano fazer uma prova ou algum tipo de avaliação, mesmo oral, no final da aula ou no início da próxima? Ora se o aluno "aprendeu", não terá dificuldades, e nem precisará "estudar" para a prova em casa, aliás terá prazer em responder avaliação. E, se o aluno não aprendeu em sala, qual a chance de aprender ao 'estudar' em casa? E, se o aluno não aprendeu em sala, surge a oportunidade de descobrir o porquê e corrige-se na hora o problema. Se não, deve haver algum problema no processo de ensinagem. O professor usará seus truques para impedir que aluno burle, cole ou chute na prova, fará até pegadinhas sem resultados pedagógicos concretos. 

Qual seria o problema, ineficácia de quem ensina? Quantidade de alunos elevada em sala? Falta de motivação? Pouco tempo para muito conteúdo? 


Que desastre é, que alunos que passaram sua vida na escola precisem de cursos com dicas rápidas de como se sair bem no ENEM!

A Nova escola tem como seu principal diretriz: "Esta ação contribuirá para o aprendizado?" "É pedagógico?" Ela não se preocupa com "provas de que aluno aprendeu" e avaliações desta maneira! Os alunos avaliam a si mesmos. Aprendem a serem honestos quando vêm que isto os leva ao progresso no conhecimento. Não se usa "prova" de que aluno aprendeu, nem se rotula aluno pela nota que tira. Os professores não precisam que aluno "prove" que sabe.

As avaliações
Quando as avaliações são por conceitos como "AO - atingiu objetivos" ou parecidos, imputa-se à criança a responsabilidade de não ter atingido alvos. Nos Conselhos de Classe qualifica-se a criança como "sem interesse" ou "sem vontade". Analisemos alguns exemplos de critérios para avaliação:

Conhece a história da escola, identificando o motivo pelo qual recebeu o seu nome?
Lê e interpreta informações de tabelas e de gráficos simples?
Discrimina sons graves, médios e agudos?
Produz pequenos textos?

Estes critérios deixam bastante evidente que, porquanto a criança dependa inteiramente do professor para ensiná-la, ela só fará se receber ensino de qualidade. A criança não vem de casa sabendo reconhecer estes critérios, tampouco nasceu sabendo, assim irá aprender. 
Se ela não "atingir objetivo" e a resposta do professor for "não" aos critérios, a "culpa" ou a responsabilidade será inteiramente do professor em não ter conseguido ensinar.
Jamais a criança deveria ser inputada como preguiçosa, bagunceira ou coisa assim e por isto não ter aprendido. 

Em palavras mais simples e diretas, nós, professores, não fomos aptos para ajudá-la, pois é para isto que estamos ali. 
Se for uma criança "bagunceira" e desinteressada, não exime isto de nossa inaptidão, mas é um desafio saudável e faz parte de nossa profissão.

Imagina um médico orientando sua secretária em seu consultório: Veja quantos doentes tenho hoje para atender. Os menos graves ponha em primeiro, depois aqueles doentes medianos. Os doente mais graves mande embora e se forem doentes teimosos que não se cuidam, dê uma bronca e diga para não mais aparecerem. Que médico incapaz, inapto para a profissão!

Seguimos com outros critérios mais abstratos:

Demonstra interesse diante dos temas trabalhados através de questionamentos, sugestões, opiniões?
Resolve conflitos através de diálogo?
Consegue resolver conflitos pessoais e do grupo?Tem concentração, boa audição, entendimento das orientações repassadas?
Escuta, com atenção, falas de professores e colegas?
Resolve problemas, criando caminhos para sua resolução, e que desenvolvam a iniciativa, a imaginação e a criatividade?

Estes critérios deixam ainda mais evidente que, porquanto a criança dependa inteiramente do professor para ensiná-la, ela só fará se receber ensino de qualidade. A criança pode não vir de casa sabendo reconhecer estes critérios.

Mas neste caso, nós, professores, arguímos que deveriam vir "de casa" sabendo, e que são os pais que devem educá-los. Pelo menos é isto que profissionais da velha escola dizem aos pais quando chamam estes à escola, que seu filho não presta atenção, que faz bagunça, etc e por isto não está progredindo. Dizem que a criança não tem vontade e que ela precisa desenvolver vontade. 

No caso do último critério citado acima, . . .resolve problemas, criando caminhos. . . desenvolvendo a iniciativa . . ., o caso é que a criança já vem de fábrica com criatividade e tem iniciativa, mas o professor domina o ambiente, a criança tem que fazer tudo ao modo do professor. Como poderá aprender novamente a "desenvolver a imaginação e criatividade"?

Assim, nos Conselhos de Classe, culpamos os pais, culpamos o desinteresse das crianças e nos eximimos inteiramente da responsabilidade, "fizemos tudo que podíamos", mas a "criança não se esforça".  Na entrega das avaliações aos pais, entornamos a responsabilidade para que os pais "façam alguma coisa em casa", como se a escola não tivesse mais esta obrigação ou aptidão para sanar o problema. Aos pais vai a mensagem que aluno "demonstra dificuldades na leitura e escrita", e estes pais fazem o quê?
 
Primeiro eles assinam um termo de compromisso com as seguintes premissas:

"Aos (dia, mês e ano) _______________, foi realizada a entrega do boletim para os responsáveis do aluno(a)_________________da sala do _____ ano, juntamente com o boletim foi realizada uma conversa sobre a aprovação do(a) aluno(a) mediante o conselho de classe."
Para um melhor entendimento, explica-se que: "quando um(a) aluno(a) é aprovado pelo conselho significa que não atingiu a ou as notas necessárias no exame final e por este motivo o conselho formado por professores e demais profissionais da escola o(a) aprovaram para o próximo ano, por acreditarem que no ano seguinte poderá acompanhar a turma e desempenhar um bom papel como aluno(a).
Importante salientar que o mesmo aluno(a) não pode ser aprovado pelo conselho por dois anos, sendo assim, a família e a criança necessitam se empenharem mais para que no ano seguinte o educando(a) consiga obter a sua aprovação por méritos próprios.

Eu, __________, responsável pelo aluno(a) ________ me comprometo a acompanhar com mais afinco a vida escolar do educando(a) para que ele(a) absorva o conhecimento necessário e obtenha aprovação no próximo ano letivo."

 

Cabe aos pais se responsabilizarem pelo aluno "absorver o conhecimento necessário" para aprovação? A família não "se emprenhou" suficientemente?

 
Em nenhum lugar fala da escola ponderar seus métodos e analisar se poderia melhorar.


DO FUNDAMENTAL AO ENSINO MÉDIO

Alunos robôs?
Alunos são tratados como verdadeiras máquinas idênticas. O professor prepara uma aula e  espera que “todos” os alunos da sala aprendam aquele mesmo conteúdo. Se um deles tem mais dificuldades será rotulado de aluno 'lento' ou pejorativamente de 'gênio'. Se alguns conseguem, todos devem conseguir igualmente. E, se alguns não conseguem, o carro anda, virá o dia da avaliação, depois o conteúdo será outro e na outra semana outro, e assim vai. 
Alunos que vão muitíssimo bem em algumas disciplinas, não vão bem em outras. Ninguém é tão bom assim. O “gênio” é assim só numa área. A cada duzentos anos aparece um Leonardo da Vinci, que domina várias áreas, mas nunca todas. Mas a escola acha que todos tem que aprender, apreender, apropriar-se, de “todos” os conteúdos no mesmo tempo, como se tivessem cérebros produzidos em série. 
O nível de aproveitamento é exigido por igual de pessoas totalmente diferentes (considere isto nas avaliações escritas, mas também em todas as avaliações utilizadas na escola atual). Vemos crianças rotuladas como 'inquietas, bagunceiras', que são na verdade mais espertas mentalmente, mais curiosas, mais criativas, gênios, só que incomodam do ponto de vista do professor que não descobriu em que áreas estas se darão bem (inclusive melhor que as outras crianças). Passa-se o mesmo conteúdo, cobra-se com mesmos critérios de avaliação de alunos totalmente diferentes. "Ser diferente é legal!", mas na prática . . .

Verdadeiras bibliotecas ambulantes
A quantidade e qualidade de conteúdos é imensa e algumas vezes inadequada. Por exemplo, o professor de Física, exige que todos os alunos da sala aprendam sobre “a energia do fóton emitido na transição que vai corresponder à diferença de energia entre os subníveis atômicos”, ou seja a energia que o elétron ganha ou perde ao pular de camada. Ou nas aulas de “Ótica Geométrica”, associação de espelhos planos, espelhos convexos e lentes convergentes, ele exige saber resolver todas as formulas. 
Aulas 'exigidas' de alunos que jamais irão usar isto na vida, que o professor não usa, senão em aulas. Alunos que terão profissões em áreas totalmente diferentes. Existem milhares de   conteúdos em todas as disciplinas que são cobrados de todos igualmente sem importar as diferenças pessoais, diferenças de talentos e o uso que estes conteúdos terão se é que terão no futuro. 
O aluno passa mais de vinte anos aprendendo. Quanto ele retêm para a vida e quanto ele usará na vida é questionável. O tempo é curto, então alguns conteúdos, obrigatoriamente, terão que ser mitigados. Quais? Seres humanos limitados fazem assim: ou fazemos muitíssimas coisas, mal feitas, ou fazemos poucas coisas bem feitas. Na busca da qualidade na educação não será diferente. Por que há atualmente um estresse muito grande que antecede as provas do ENEM? É possível dizer que o aluno realmente aprendeu tudo em sala mas 'esqueceu"? Ou que, de fato, é muita coisa para o cérebro reter? 

"Moreno-Marimón & Sastre (2002) numa pesquisa recente, perguntam a adultos que passaram por diferentes escolas se um determinado conteúdo aprendido em tal instituição teria hoje, em sua vida adulta, algum sentido ou, em outras palavras, teria sido utilizado fora da escola. A resposta a esta questão nos parece longe de mostrar que a escola tem cumprido seu papel formador. Perguntados sobre “quando utilizaram a raiz quadrada em suas vidas” apenas 6% dizem ter utilizado esse conceito em aplicações úteis como por exemplo, para cálculos de área, ou enquanto professores, para dar aulas particulares e outros 4% diriam que seu uso foi importante para ser usado em jogos diversos. (Bullying e violência na escola: entre o que se deseja e o que realmente se faz - Tognetta/Vinha)


Alunos com cérebros geniais
Em qualquer escola do Brasil (velha escola), em qualquer dia, alunos são 'obrigados' a dominar milhões de informações até o dia da prova. O aluno precisa dominar todas as disciplinas ao mesmo tempo. 
Pegue uma semana qualquer do ano, uma escola de nível médio. O aluno precisa saber do conteúdo da semana de língua portuguesa, matemática, biologia, cidadania, filosofia, artes,  sociologia, química, física, etc. O cérebro é limitado, não se pode simplesmente "socar" um monte de informações ali dentro em curto espaço de tempo. Depois da prova, do Enem, do vestibular, o cérebro apagará metade deste conteúdo que serviu apenas a este propósito.  

Se pegar qualquer professor (ou diretor) nesta semana e pedir para fazer qualquer prova de outra disciplina, é muito provável que não saberá. Se pedir para qualquer professor, que não seja de matemática ou física, para resolver uma simples questão de equação de segundo grau, é possível que não saiba. Mas o aluno tem que saber "tudo de todas”, cada semana, o ano inteiro.

Métodos de ensino ultrapassados  
Por exemplo, depois de uma explicação em que só se ouve a voz do professor, este pergunta -Todos entenderam? - A turma responde em coro – Sim, professor! 
Alunos tímidos ficam em silêncio ou se juntam ao coro, mas 'eles não entenderam'. O professor toca a aula pra frente, muitas vezes acaba nem sabendo que “nem todos entenderam”.  Só descobre na prova, quando alunos "provam" que aprenderam.

O professor tem uma vivência de muitos anos na escola, na faculdade, na vida, num casamento, numa roda de amigos, enfim, toda uma experiência única e rica. Ele não entende como é que estes alunos 'preguiçosos' não assimilam o conteúdo, pois o professor foi 'muito claro' em sua aula, ele acha que 'todos deviam ter entendido sim' o que ele explicou. Chamamos isto de “Discursos Que Perpassam” a abordagem em si, ou seja, como nosso interlocutor entenderá nossa fala. 

Quando esperamos que outra pessoa entenda exatamente assim como nós entendemos determinado ponto de vista vivemos uma ilusão, uma irrealidade.

Proprietário ou mediador do conhecimento?
Professores ainda passam o conhecimento, e a nova visão de ensino diz que o professor deve, como mediador, contribuir para que o aluno aprenda, ajudá-lo a raciocinar e chegar a conclusões. Algumas vezes talvez seja possível alunos que 'pegaram' o assunto ensinem outros alunos (com supervisão), pois quando se ensina, aprende-se. 
Mas se um aluno diz que não acredita, por exemplo, na Teoria da Evolução (mesmo que o professor não acredite ou não possa apresentar provas concretas), surge um mal estar, por que os livros mostram homens grotescos, hominídios peludos e encurvados, e apresentam  como fato e o professor somente repete. 

E assim será mesmo na faculdade, em que o aluno em geral não pode defender 'a própria opinião”, por mais que tenha embasamento em experiências reais, em estudo de campo, em laboratório. Só será aceito quando o aluno cita 'famoso', renomado nos meios científicos. Por outro lado, insistimos que iremos, como professores, transformar o aluno em cidadãos pensantes, reflexivos, autônomos, etc. 


Uma vez um aluno perguntava depois de cada exposição minha do conteúdo como ele poderia saber que aquilo era verdade. Eu acabei me irritando, achando que ele queria atrapalhar minha aula e dei um bronca nele e exigi que ficasse em silêncio dali em diante. Hoje vejo que errei, pois o professor tem a obrigação de ajudar o estudante a buscar o conhecimento, a questionar, a discordar, a não entender, a ter dúvidas, querer saber o porquê e como.



Professores estressados
É impressionante a quantidade de projetos e atividades que se envolve durante o ano. Muitas vezes professores estão com vários projetos ao mesmo tempo, mais os projetos de comemorações, e estes demandam uma grande quantidade de tempo e serviço, pouco ensino e muita montagem, recortes, murais, etc. Não dá tempo nem para avaliar o aproveitamento do último projeto, porque acabou, mas já tem outros em andamento e outros a começar. Uma loucura! Muitas vezes se deixa de lado por um instante o conteúdo para se desenvolver trabalhos da próxima comemoração, inclusive treinamento para apresentações e ensaio de musicas afins com alunos. É um dos principais empecilhos para a qualidade na educação, mesmo que haja quem defenda como necessário e digam que é pedagógico.

Quer fazer bem feito, faça com tempo suficiente, devagar e bem feito, para isto, enxugue, trabalhe com qualidade no pouco e bem feito.  

Interferência externa
"O aprisionamento do professor a métodos e conteúdos ditados pelas autoridades em assuntos escolares. As escolas públicas têm a sua prática pedagógica determinada ou por orientações oriundas das secretarias de educação ou pelos próprios livros didáticos. Isso resulta, na maioria das vezes, em uma prática curricular muito pobre, que não leva em conta nem a experiência trazida pelo próprio professor, nem a trazida pelo aluno, ou mesmo às características da comunidade em que a escola está inserida. Por outro lado, isso restringe a autonomia intelectual do professor e o exercício da sua criatividade. E pior: não permite que a escola construa sua identidade" -

(http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=14550&chapterid=10917) . 

Na reestruturação da educação em diversos países, o professor tem liberdade de construir o currículo segundo as necessidades do aluno, às vezes o próprio aluno ganha certa liberdade para participar disto também.


Veja "ESCOLA DO FUTURO"
Leia: "Diretrizes para o Programa Escola Integral - São Paulo"

Espaço Físico
Como é usado o espaço físico da velha escola e por que muitas são feias, pichadas e depredadas?
Ninguém se sente dono do prédio. Quando se diz prédio público se entende da prefeitura, estado, ou de empresa.
A Escola pública na verdade é como uma praça pública num bairro, o estado constrói, fornece manutenção e cuidados, mas a quem realmente pertence? É da comunidade! E quando esta entende isto, passa a usar e a cuidar dela como algo que lhes beneficia muito. A comunidade é quem paga impostos para ter isto.
Na velha escola, os pais podem não ter entendido que ela pertence a comunidade, a eles. Numa centena de anos a escola afastou os mesmos dela. Agora acha que os pais são responsáveis por seu fracasso porque "não dão educação em casa" para seus filhos e esta se exime também desta tarefa. O Conselho Escolar exime a Velha Escola, mas apenas onde é aplicado e funciona como deve.

Como é a Nova Escola?
A Nova Escola foi devolvida aos pais. Estes são convidados a vir a escola sempre que desejarem, e passar tempo ali. Participam das decisões através do Conselho Escolar que os representam. Quando há reunião do Conselho, este não decide sozinho, mas consultam os pais, funcionários, professores e alunos antes de tomarem decisões. Se envolver trabalho no prédio (pinturas, concertos, etc.) não são os membros apenas que comparecem, mas toda a comunidade.
Em muitas escolas os pais podem ficar na escola durante o período sem nenhum prejuízo para o andamento dela, desde que não interfiram na mesma.

A Nova Escola coloca em prática a análise dum documento preparado pela Velha Escola que se chama "Análise de Critérios Escolar" em que participam todos da comunidade ao analisar e depois ao aplicar quaisquer ações nos próximos meses.

E o dinheiro para sustentar a educação
Para cobrir gastos com manutenção de prédios a Velha escola não deveria produzir sua própria fonte de dinheiro como diz o caderno 7 do MEC:

"A autonomia financeira deve possibilitar à escola elaborar e executar seu orçamento, planejar e executar suas atividades, sem ter que necessariamente recorrer a outras fontes de receita, aplicar e remanejar diferentes rubricas, tendo o acompanhamento e fiscalização dos órgãos internos e externos competentes. Em síntese, é obrigação do poder público o financiamento das instituições educacionais públicas e compete às escolas otimizar e tornar transparente e participativo o uso dos recursos. Assim, o conselho escolar é o local apropriado de discussão e democratização do uso dos recursos financeiros administrados pela escola."  

"Assim, no tocante à dimensão financeira, a escola passa a ser responsável por definir ações, elaborar e executar os seus projetos educativos e de gestão. Essa responsabilidade, diferente de antigamente, não fica mais restrita à figura do diretor e à sua equipe de coordenaçãoTodos os envolvidos direta e indiretamente são chamados a se responsabilizar pelo bom uso das verbas destinadas à educação.
Ao defendermos a autonomia da escola, estamos defendendo que a comunidade escolar tenha liberdade para, coletivamente, pensar, discutir, planejar, construir e executar o seu projeto político-pedagógico, entendendo que neste está contido o projeto de educação e de escola que a comunidade almeja."

No entanto, a Velha Escola ainda está envolvida em bazares, grandes festas, onde se oferecem alimentos, rifas, diversão para angariar fundos, desviando-se de sua função. A escola não deveria precisar "arrecadar dinheiro". Para isto, funcionários da administração, merendeiras, agentes de limpeza e professores gastam bastante tempo na preparação, tempo que deveria ser usado com objetivo simples e restrito: ensinar os alunos. 

A Velha Escola tem sido criticada a mais de cem anos.
A Nova Escola não é tão nova, tem uns cem anos.
A Velha Escola é boa para produzir cidadão dependente do sistema.
A Nova Escola é "perigosa" pois desenvolve cidadãos autodidatas, questionadores, exatamente o que propõe a velha escola.
A velha escola produz cidadãos que dependem de cursos, formações, incentivos para se desenvolver.
A nova produz inovações, gênios e artistas que empreendem e transformam o mundo.


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