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Desenvolvimento
emocional da criança
A
educação afetiva deveria ser a primeira preocupação dos
educadores, porque é um elemento que condiciona o comportamento, o
caráter e a atividade cognitiva da criança. E o amor não é
contrário ao conhecimento podendo tornar-se lucidez, necessidade e
alegria de aprender. Quando se ama o mundo, esse amor
ilumina e ajuda a revelá-lo e a descobri-lo ( SNYDERS ,1986).
Entende-se
que a escola é a continuação do lar, sendo que esta não
pode se limitar a fornecer somente conhecimentos conceituais, mas
contribuir para o desenvolvimento da personalidade de seus
alunos em sua totalidade. A maior influência no processo
escolar é exercida pelo professor que precisa ter o
conhecimento de como se dá o desenvolvimento emocional e
comportamental da criança em todas as suas manifestações.
Para
que haja um desenvolvimento harmonioso é importante satisfazer a
necessidade fundamental da criança que é o amor. (...) O
professor, na sua responsabilidade e no seu conhecimento da
importância de sua atuação; pode produzir modificações no
comportamento infantil, transformando as condições negativas
através das experiências positivas que pode proporcionar.
Estabelecerá, assim, de forma correta, o seu relacionamento com a
criança, levando-a a vencer suas dificuldades ( SOUZA, 1970).
A
PCN
As
diretrizes concernentes à formação dos professores (Brasil, 1999),
assinalam que uma educação de "qualidade" deve
desenvolver, nos aprendizes, diferentes capacidades "cognitivas,
afetivas, físicas, éticas, estéticas, de inserção social e de
relação interpessoal" (p.25). E ainda, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) (Brasil,1997), constituem, também, uma
referência ao currículo do ensino fundamental. Esse currículo visa
o desenvolvimento de capacidades "de relações interpessoais,
cognitivas, afetivas, éticas, estéticas, ... para que o aluno possa
dialogar de maneira adequada com a comunidade, aprenda a respeitar
e a ser respeitado, a escutar e ser escutado, a reivindicar seus
direitos e a cumprir seus deveres" (Brasil, 1997, p.46). Sendo
então que a dimensão afetiva deve estar inserida na aprendizagem
escolar e nos seus relacionamentos.
Segundo
Piaget (1996), nenhum conhecimento, mesmo que puramente através da
percepção, não é simples cópia do real ou se encontra totalmente
determinado pela mente do indivíduo. É o produto de uma interação
entre o sujeito e o objeto, é a interação provocada pelas
atitudes espontâneas do organismo e pelos estímulos externos. E
esse conhecimento é, portanto, aprendizagem, fruto de uma relação
que nunca tem um sentido só, é o resultado dessa interação. E a
afetividade é a energia que move as ações humanas, sem ela
não há interesse e não há motivação para a aprendizagem.
Crianças
ríspidas?
Já
Maldonado (1994), nos ajuda a refletir sobre fatores que dificultam o
relacionamento interpessoal, apontando que o afeto pode estar
escondido sob camadas de mágoa, medo, desconfiança, tristeza,
ressentimento, decepção, vergonha e raiva. Nos adverte ainda, que
as atitudes ríspidas e agressivas, muitas vezes podem
expressar a necessidade de proteger-se contra o medo de ser
rejeitado, sentimentos de inadequação e também contra a dor do
desamor, resultando num bloqueio emocional para todos os seus
relacionamentos.
Atitudes
ríspidas, grosseiras e agressivas expressam, com frequência, a
necessidade de formar uma carapaça protetora contra o medo de ser
rejeitado, contra sentimentos de inadequação ("já que sou
mesmo incompetente para tantas coisas, por aí eu me destaco") e
contra a dor do desamor ("ninguém gosta de mim mesmo, quero
mais é explodir o mundo"). MALDONADO, (1994, p.39).
Aprende
mais se for amada
Rodrigues
(1976), diz que os motivos para o ser humano aprender qualquer coisa
são profundamente interiores. Segundo ele, uma criança aprende
melhor e mais depressa quando se sente amada, está segura e é
tratada como um ser singular. E os motivos da criança para aprender
são os mesmos que ela tem para viver, pois não se dissociam de suas
características físicas, motoras, afetivas e psicológicas.
O
afeto é essencial para todo o funcionamento do nosso corpo nos
dando coragem, motivação, interesse, e contribuindo para nosso
desenvolvimento. E é pelas sensações que o afeto nos proporciona
que sabemos quando algo é verdadeiro ou não. Principalmente para a
criança o afeto é importantíssimo, pois ela precisa sentir-se
segura para poder desenvolver seu aprendizado, e é necessário
que o professor tenha consciência de como seus atos são
extremamente significativos nesse processo, porque essa relação
aluno-professor é permeada de afeto, e as emoções são
estruturantes da inteligência do indivíduo (WALLON, (1995).
(Importância
da Afetividade na Aprendizagem Escolar: O Afeto na Relação
Aluno-Professor Psicologia Escolar Escrito por: Elisete Avila da
Silveira Março/2014)
O
QUE É A PEDAGOGIA AFETIVA?
Na
prática, a educação Afetiva é composta pelas seguintes
características: tratar o aluno com
gentileza. Professor ajuda a criança
chegar a conclusões por si mesmo.
Escuta a criança,
seus desejos, suas dificuldades, sempre que possível ao nível dos
olhos delas. Assim, ele conhece bem seus alunos porque tem gentileza,
solidariedade, tolerância, sensibilidade. O ambiente em sua aula é
de confiança e respeito mútuo
e isto favorece a autoestima e a aprendizagem dos alunos. A criança
participa na construção da didática porque o professor usa ao
máximo as ideias que fluem da criança para enriquecer sua aula. Ele
não é o soberano do saber,
quem manda, mas um mediador, um incentivador. Não é alguém que
sempre tem a resposta na ponta da língua, mas que orienta seus
pupilos a buscarem por si mesmo as respostas.
O
professor não entra em sala com aula pronta para passar
conhecimento, não fica falando o tempo todo. Mas ele instiga,
encoraja seus pupilos que colaboram na busca do saber. Não
existe razão para o aluno provar que aprendeu, basta que aprenda.
Antunes
(2007) define a afetividade como sendo o estado de ânimo ou
humor, os sentimentos, as emoções e as paixões, que podem
definir atitude do indivíduo perante qualquer experiência vivida,
gerando impulsos motivadores e inibidores. Exatamente por isso, ela
exerce uma profunda influência sobre o pensamento e o comportamento
do indivíduo, seja motivando-os ou inibindo-os.
Antunes
(2007, p.56) ainda comenta:
A
relação professor e aluno deve ser baseada na afetividade
e na confiança, pois: se o professor assume aulas para
uma classe e crê que ela não aprenderá, então esta terá imensas
dificuldades. Se ao invés disso, ele crê na expectativa do
desempenho da classe, ele conseguirá uma mudança, porque o cérebro
humano é muito sensível a essa expectativa sobre o desempenho.
(SILVA, 2015)
Laurinda
Ramalho de Almeida, vice-coordenadora do Programa de Estudos
Pós-Graduados em Educação, da PUC-SP explicou Wallow ao ser
entrevistada por Fernanda Salla para Nova Escola:
Pelo
fato de ser mais visível que as outras duas manifestações, a
emoção é tida por Wallon como a forma mais expressiva de
afetividade e ganha destaque dentro de suas obras. Ao observar as
reações emotivas, ele encontra indicadores para analisar as
estratégias usadas em sala de aula. "Se o professor
consegue entender o que ocorre quando o aluno está cansado ou
desmotivado, por exemplo, é capaz de usar a informação a favor
do conhecimento, controlando a situação", explica Laurinda.
Não é possível falar em afetividade sem falar em emoção, porém
os dois termos não são sinônimos. (SALLA, 2011)
Para
Wallon, afetividade e inteligência trabalham juntos para o
desenvolvimento do ser humano. Eles se movimentam e interagem para
formação do ser como pessoa. A escola tem o dever de fazer
exatamente isto, criar um ambiente para a interação entre
afetividade e inteligência, razão e emoção, com objetivo de
contribuir para que a pessoa se desenvolva como ser completo.
Quando
a criança não está disposta, o profissional não a considera como
preguiçosa, pouco esforçada; quando a criança está agitada, ele
não a considera um problema. Assim, não há problema nenhum de a
criança tirar um tempo para descansar, se acalmar, ou para
raciocinar com calma.
O
professor de filosofia e educação da USP César Aparecido Nunes a
descreve assim:
“Educação
afetiva é a criação de uma atmosfera vivencial de
sensibilidades, de gestos elevados, esteticamente belos e bons,
como aqueles que cultivamos como essenciais. Praticar a palavra
acolhedora, a bendizer os dias e as pessoas, a celebrar os
encontros, a pedir desculpas e perdões pelos erros, pelas
contradições, pelos desvios padrões que acontecem entre nossos
desejos, nossas necessidades e nossos atos reais, é sempre cultivar
a paz, a leveza, a generosidade, a esperança, o bom trato, a
convivência pluralista, diversa, amorosa, isto é, carregada de
laços de pertencimento, de pequenos gestos de acolhimento, de
demonstração da especialidade de nossa condição cultural humana.
Educação
afetiva é erigir alguns valores como “sagrados” para a
convivência familiar, escolar, social e grupal, tais como, a
disposição para o trabalho em grupo, a decisão consultiva, as
escolhas voltadas para o bem de todos, a paz e a democracia, o
respeito à dignidade de toda pessoa, a condenação de toda
forma de violência, simbólica ou real, a condenação firme de toda
crueldade, de toda covardia, de toda destruição predatória do
ecossistema, dos animais, das flores, do meio ambiente, da natureza.
Ter sobretudo o sagrado amor à vida, proteger os que precisam de
mais afeto, de mais proteção, combater todo sofrimento humano,
notadamente aquele socialmente produzido, para que possa ser
socialmente transformado.” (NUNES, 2016)
Nenhum
adulto bem educado interrompe outro, ou manda parar uma atividade de
imediato, assim também faz o educador afetivo. Ele demonstra à
criança o mesmo respeito que teria com outro adulto. Muitas
vezes ele é flexível e dá um tempinho para a criança acabar a
atividade de seu interesse, qualquer que seja, e que tenha dado
atenção no momento. Ele não interrompe a concentração da
criança mesmo que pareça uma brincadeira sem importância para
o adulto; para a criança é sempre um aprendizado.
Em
turmas regulares autocráticas existe uma dificuldade de manter os
limites dos alunos, deixando algumas vezes os profissionais com
dificuldades para discernir a melhor ação para o momento e como
lidar com as situações que vão surgindo.
Os
educadores pretendem determinar como os alunos devem se vestir
(bonés, adornos, cor de tênis e calças, estilo, etc.), como devem
se comportar (postura, local das mãos, se podem ou não chupar balas
ou comer uma bolacha na classe, permanecer sentado, não falar, fazer
filas, etc.) e como usar os materiais (pular linha, lápis, caneta
azul, etc.). Ficam atentos às menores “transgressões”,
considerando quase tudo como “desrespeito” à figura do
professor: observam se os alunos retornam do recreio logo depois do
docente; se ainda estão acabando de comer o salgadinho ou de tomar o
restinho de um suco ao término do intervalo; se o aluno está
chupando pirulito na classe; se está sentado com a nuca apoiada no
encosto da cadeira; se quer ir ao banheiro pouco tempo depois do
recreio; se está fazendo outra coisa na aula a não ser o exercício,
etc. De forma contraditória, tentam ser rigorosos com os alunos,
mas são bastante condescendentes consigo próprios, tanto em relação
ao exemplo que dão, quanto em relação ao seu comportamento quando
estão no papel de alunos ao fazerem cursos...(VINHA,TOGNETTA, 2006b,
pag. 03)
Em
qualquer pedagogia, em qualquer turma, em qualquer escola do país,
ser educado inclui as palavrinhas mágicas como por favor,
obrigado, com licença, como se requer de adulto para adulto, assim
isto se aplica ao professor e a criança da mesma maneira, inclusive
do professor para a criança. A boa educação vai tornando o
padrão na mente da criança pelo belo exemplo que o adulto dá.
É muito importante cobrar das crianças a boa educação?
Ou é algo que vêm naturalmente dum ambiente educado?
A
fusão de amor e medo deverá desaparecer da cena moral, pois o
respeito unilateral será paulativamente superado pelo respeito
mutuo, pela reciprocidade, portanto. A confiança nas outras
pessoas não desaparecerá de cena, mas deixará de ser uma condição
necessária para o agir moral, sobretudo, também a reciprocidade,
será compensada pela vontade de merecer confiança, pelo sentimento
da própria honra.
“Piaget
afirma que o ser o autônomo somente legitima princípios e regras
morais inspiradas pela reciprocidade, pela igualdade, pela equidade e
pelo respeito mútuo”. (LA TAILLE, 2006, p. 21, 132)
Na
educação afetiva a regra não é “professor manda, aluno
obedece”, mas a criança aprende
os princípios das regras escolares,
os porquês de ela existir e participa inclusive nas alterações de
regras que se tornam obsoletas quando se mudam as razões para sua
existência. As regras inegociáveis são exceção, mas a criança
aprende seus princípios igualmente para entender o porquê de
segui-las. Você conhece alguma regra que não tem mais uma razão de existir?
Nossos
alunos não são diferentes de nós educadores, com as mesmas
necessidades humanas. Por que iríamos mostrar todo o respeito para
com a pessoa adulta e agir diferente com uma criança que precisa de
muito mais carinho e cuidado, especialmente na relação de ensino
entre professor e aluno?
[…]
o que vai dar qualidade ou modificar a qualidade do aprendizado será
o afeto. São as nossas emoções que nos ajudaram a
interpretar os processos químicos, elétricos, biológicos e sociais
que experienciamos, e a vivência das experiências que amamos é que
determinará nossa qualidade de vida. Por esta razão, todos estão
aptos a aprender quando amarem, quando desejarem, quando forem
felizes. (CUNHA, p.67)
Educadoras
da UNICAMP, VINHA-TOGNETTA observaram turmas autocráticas e turmas
democráticas construtivistas:
Os
educadores constatam, angustiados, que as brigas estão sendo
resolvidas de forma cada vez mais violenta, mas sentem-se
despreparados para realizarem intervenções diferentes de
conter, punir, acusar, censurar, ameaçar, excluir, ou mesmo
ignorar... Assim, acabam por educar moralmente agindo de maneira
intuitiva e improvisada, pautando suas intervenções
principalmente no senso comum." (VINHA,TOGNETTA, 2009, pag. 532)
“Na
classe autocrática, as regras existentes e que eram impostas pela
professora visavam ao bom comportamento e ao controle. Em nome da
disciplina, da “aprendizagem” ou do bom andamento dos trabalhos
eram tomadas determinadas medidas autoritárias e impostas regras
abusivas, como, por exemplo, querer que as crianças ficassem
sentadas em silêncio após concluírem suas atividades ou ainda
fixar um horário antes e depois do recreio para irem ao banheiro e
beberem água. Outros exemplos de normas abusivas: as crianças
não deviam conversar ou somente deviam fazê-lo quando solicitado
pela professora; ficar sentado todo o tempo de duração das aulas;
não ficar se movimentando pela sala; estar sempre atento; não ficar
fazendo outra coisa que não seja aquilo que a professora tenha
mandado, etc. As normas não precisavam ser compreendidas, mas
obedecidas. Não eram necessários bons argumentos que
justificassem a necessidade das regras; bastava a demanda da
professora, que reforçava a submissão e a obediência acrítica.
Para manter a obediência, conseguir o silêncio e o bom comportamento, a professora valia-se de ameaças e sanções expiatórias, como, por exemplo, deixar as crianças sem o recreio ou retirar a educação física, realizar cópias, encaminhá-las para a diretoria ou contar aos pais. . .”
Observou-se nessa classe, como em inúmeras outras classes de outras escolas, a necessidade de um controle demasiado por parte da professora, que demonstrava querer legislar sobre quase tudo. Os educadores pretendem determinar como os alunos devem se vestir. . . como devem se comportar. . . e como usar os materiais. Ficam atentos às menores “transgressões”, considerando quase tudo como “desrespeito” à figura do professor: . . De forma contraditória, tentam ser rigorosos com os alunos, mas são bastante condescendentes consigo próprios,tanto em relação ao exemplo que dão, quanto em relação ao seu comportamento quando estão no papel de alunos ao fazerem cursos… Muitos professores e pais brigam com suas crianças, obrigando-as a cumprir essas regras absurdas, sem ao menos pararem para refletir se elas são de fato necessárias para ordenar as relações ou para o processo de aprendizagem, e se são justas e respeitosas.” (VINHA,TOGNETTA, 2006, pag. 03)
Entre
os grandes desafios da educação do século XXI, temos “cada vez
mais desvelado o lugar opressor das instituições educacionais no
processo de formação humana, como foi apontado nas críticas
contundentes de Foucault (1995), que destaca uma simetria entre os
modelos das celas nos conventos, quartéis, hospitais, fábricas e o
das escolas”.
A
Educação Afetiva tem como objetivo desfazer este modelo a fim de
dar ao estudante escolar o direito a pensar, a ser respeitado e
alimentar a esperança de ver um mundo melhor. Mesmo porque o
desenvolvimento em relação à escola caminha a passos muito lentos.
Foucault identificou o sistema educacional inadequado no século
passado. “Na escola, o lugar de cada um, a ordem nas fileiras,
a repartição das tarefas, os gestos mais úteis, são postos não
só para tornar as pessoas mais submissas, mas também para garantir
uma melhor economia do tempo e dos gestos”. (FERREIRA,RÉGNIER,
2010)
A
diferença entre turmas autocráticas e democráticas é justamente a
afetividade, a preocupação com o ser, suas emoções, seu
direito de saber as razões de fazer ou não fazer.
Deste
modo, encontra-se comumente nas escolas a imposição de regras
tolas e desnecessárias (“não usar modismos”; “não
conversar sem autorização do professor”); normas justificadas em
nome da igualdade estrita (não da equidade) e da homogeneidade (“eu
entendi que você não pode vir com a blusa do uniforme porque
derrubou o achocolatado ao sair para o colégio e na casa de seu pai
não havia outra blusa limpa, porém regra é regra e não posso
abrir exceção, permitindo sua entrada na escola”) ou embasadas na
mera obediência à autoridade (“não pode usar boné porque é a
regra da escola”; “não fale assim porque senão contarei para
seu pai”).
Para
que sejam cumpridas, são empregadas formas de legitimação por meio
de procedimentos exteriores (receber uma recompensa, ser censurado ou
punido) que somente reforçam a submissão e a obediência
acrítica.
Em
vez de utilizar procedimentos temporários da educação para o
presente, que leva o sujeito a conformar-se com as normas, devido às
manipulações feitas pelos adultos, como o poder da autoridade, o
uso de recompensas (notas altas, pontos positivos, considerações
especiais, elogios, etc.) e de punições (notas baixas,
advertências, castigos, ameaças, etc.), visando à formação de
pessoas autônomas, faz-se necessário que a apropriação das normas
ocorra por meio da reflexão, discussão e ação, permitindo
à criança perceber as consequências naturais decorrentes de suas
atitudes (reciprocidade). (VINHA,TOGNETTA, 2006, pag. 06, 11)
A
Educação Afetiva tem objetivo ainda mais sublime. Sublime: o que se
apresenta de modo grandioso por meio de atitudes e/ou sentimentos; o
mais elevado grau de perfeição, segundo o Dicionário Online De
Português.
Todas
as crianças têm necessidade de aconchego humano, de cuidados
parentais e mais tarde, escolares também. Mas algumas têm mais que
outras. Conforme a violência aumenta, as crianças são direta ou
indiretamente afetadas. Se houver violência em casa, seja
emocional, física ou sexual, então a criança terá uma necessidade
de cuidados ternos maiores. É difícil para qualquer um imaginar um
adulto, sejam pais ou professores, gritando com esta criança que
tanto precisa de carinho. Ou fazendo pressão para que aprenda, ou
que simplesmente obedeça os adultos em sua volta.
Algumas
podem ser verdadeiras refugiadas, quando a família tem que se
mudar de um lugar por diversas razões, inclusive a violência
doméstica, ou violência do bairro. Aquelas que sofrem abusos por
parte de adultos muitas vezes vão parar em casa de parentes, de
estranhos, e até em abrigos quando algum progenitor ou companheiro
que mora na casa comete esta atrocidade. Algumas crianças reagem
com mau comportamento que pode ser entendido pelos adultos
como rebeldia que tem que ser dominada pela força. Muitas vezes
mesmo a criança não tem noção nenhuma do que acontece, com
o mundo onde vive, nem com sua própria mente e ou com seu corpo e as
reações de sua mente aos maus tratos. Mesmo os adultos passam por
isto.
Esta criança, no ambiente escolar, precisa dum cuidado muito especial, e certamente recebe este cuidado. No entanto deve-se notar que muitas vezes a criança pode estar com alguns deste problemas citados anteriormente, ou mesmo separação dos pais, e a escola não sabe. Uma criança que é abusada, às vezes passa anos sem que ninguém saiba disto. Muitas vezes a escola não tem a mínima ideia que um adolescente pensa em suicídio. É a Educação afetiva que suavizará, abrandará a dor secreta; às vezes dor que nem a criança tem noção do que seja ou suas implicações no seu psique.
- Existe realmente alguma diferença na necessidade de cuidados para com a criança abusada e as demais?
É
fácil e humano cuidar de alguém depois que se sabe de seu
sofrimento. Mas imagine que adultos, numa escola normal, usem de
gritos, pressão emocional, ameaças e até omissões de
cuidado. No entanto, todas as crianças de todas as escolas do mundo
têm, em algum nível a necessidade de carinho, umas mais que outras.
Então a Educação Afetiva realmente tem o poder de desfazer o
modelo ultrapassado que Foucault (1995) rejeitou.
Podemos
compreender que uma educação afetiva nos guiará para encontrarmos
mecanismos de auxílio para nossa didática e nos tornará
educadores melhores. Esta relação entre a educação afetiva e
o bem estar geral das emoções se liga a mecânica de aprender na
mente e em todo o corpo do educando.
As
autoras de “A importância da afetividade na aprendizagem dos
alunos”, (SIQUEIRA, NETO, FLORÊNCIO, 2011) resumem bem quando,
analisando CUNHA, SALTINI e MARTINLLE, concluem que “quando uma
criança sente-se amada, querida, respeitada pelo professor
que demonstra tal atitude, com certeza este aluno sentirá desejo
de aprender. A pedagogia é esta linha que deveríamos seguir em
sala de aula, demonstrando afeto, sensibilidade, respeito,
responsabilidade, dedicação, empatia e principalmente compromisso
com o que se faz e para quem se faz”.
“A
educação é uma arte”, defende Saltini (2008, pag. 69). A
sala de aula é o espaço propício para esta arte, desde que o
ambiente seja preparado pelo professor com afeto e carinho . Este
autor explica que o professor deve conhecer seu aluno e
ajustar seu ensino, pois não é o dono do saber. Para isto o
educador precisa ouvir a criança. Poderíamos entender de maneira
simples, basta olharmos com o olhar da criança, de sua vivência, de
suas vontades e de suas limitações. Saltini salienta que “educador
não fala horas a fio, mas mantém um diálogo”. E quando ele
diz que “o professor acredita que o aluno tem a capacidade de gerar
ideias e colocá-las a serviço da vida”, quer dizer que, além de
escutar a criança, se colocando ao nível de seus olhos, o professor
também usará o que a criança produziu em formas de ideias,
planos, opiniões para enriquecer o seu conteúdo didático. E os
elogios devem ser dados abundantemente.
O
professor é o grande responsável por estimular e manter esse
vínculo afetivo; é a figura do professor que fornece segurança ao
aluno no ambiente escolar e em seu envolvimento com o processo
ensino-aprendizagem.
Pacheco
(2014) afirma que quando a relação professor-aluno é recíproca de
bons encontros, cria-se um laço afetivo colaborando para o
processo de ensino e aprendizagem. Essa ligação afetiva entre
professor e aluno não se limita somente ao carinho físico, mas
também na forma que o aluno é tratado. O tom da voz, gestos e
palavras são grandes aliados do professor para estabelecer uma
boa comunicação afetiva com seus alunos.
Para
Luck e Carneiro (1983), os educadores que são capazes de desenvolver
habilidades de comportamento afetivo conseguem ter maior
desempenho de seus alunos. Algumas
habilidades que os autores citam é que a afetividade não se limita
a carinho físico, muitas vezes se dá em forma de elogios
superficiais, ouvir o aluno, dar importância às suas ideias. É
importante destacar essa forma de afetividade, pois às vezes nem
percebemos que pequenos gestos e palavras são maneiras de
comunicação afetiva. (A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA APRENDIZAGEM
- Beatriz Buzzo Moreira, Renato Cezar Silvério Júnior)
A
grande inclusão que precisamos na educação não é a tecnológica
– embora necessária – mas a afetiva e a de valores: Inclusão
afetiva: acolher os alunos, valorizá-los, dar-lhes força,
esperança, entusiasmo. Alunos motivados vão mais longe, caminham
com mais autonomia. A afetividade é um componente fundamental
pedagógico e contribui decisivamente para o sucesso pessoal e
grupal.
Além
da inclusão digital precisamos da inclusão afetiva e ética: termos
educadores e gestores confiáveis, que inspirem confiança,
não porque sabem tudo, mas porque procuram ajudar os alunos
a caminhar por si mesmos, a aprender juntos, a acreditar nas
possibilidades de cada um.” (MORON 2007, pág.1)
Quando
um professor prepara uma aula e espera que as crianças “se
esforcem em aprender”, ele impõe uma obrigação à criança
para que aprenda. Na verdade não existe esta obrigação, por
isto que as aulas são dadas de maneira lúdica. É brincando que
a criança aprende. Se o professor inserir em seus conteúdos
brincadeiras prazerosas para a criança, ela não precisará se
esforçar. O professor deverá entender que uma criança poderá
aprender brincando, mas ele não deveria exigir que a criança
aprenda por uma brincadeira idealizada por ele. Se uma escola
entende que a criança não está ali para brincar mas para aprender,
ela se confronta com a ideia do que seja aprender de maneira lúdica.
Se a criança tem que se esforçar em aprender, mesmo de maneira
lúdica, o fim que se deseja atingir está invertido. É por meio do
prazer de brincar que a criança inevitavelmente aprende, então não
precisa de pressão para o aprendizado.
Professores
devem estar conscientes que “a serenidade e a paciência, mesmo em
situações difíceis, fazem parte da paz que a criança necessita”
(SIQUEIRA, NETO, FLORÊNCIO, 2011). O professor jamais irá perder
o controle de suas emoções. Com este ambiente respeitoso e
pacífico será fácil para o professor dar aulas de qualidade
com a total colaboração dos educandos. Ele não irá julgar os
educandos como sem interesse ou alienados, mas serão uma equipe
trabalhando em uníssono para o bem de todos.
“Propiciar
um ambiente favorável à aprendizagem em que sejam trabalhados a
autoestima, a confiança, o respeito mútuo, a valorização do
aluno”. Martinelli (2005, p 116)
Num
tempo em que a violência na escola aumenta e a pressão sobre todos,
professores e alunos, aumenta igualmente, a Base
Nacional Comum Curricular, BNCC,
demonstra esta preocupação com o lado emocional quando define a
educação sócio emocional como parte essencial da educação.
O
resultado da soma das ações afetivas é a produção de autonomia
nos alunos. Alunos autônomos são seres capazes de tomar decisões
por si mesmos e equilibradas. Estes conseguem analisar a
situação, contabilizar as informações disponíveis, e são aptos
para não depender de outros, ainda que outros colaborem com
informações pertinentes.
Escolas
com Pedagogia Afetiva
Escolas
reestruturadas em países de língua espanhola nas Américas e na
Europa adotaram esta pedagogia. Em 2012, empresas de produção de
vídeos, 704 no total, produziram um vídeo em colaboração e
entrevistaram profissionais de dezenas destas escolas e como estão
dando certo. O vídeo tem o tema original de “Educação Proibida”,
mas pode-se achar pelo nome de “Escola do Futuro”.
No
Brasil, na UNICAMP, há mais de 10 anos um grupo de pesquisadores
ligados a educação têm feito estudos sobre como como lidar com
conflitos dentro das escolas. A Doutora Telma Vinha lidera um grupo
que estuda as diversas maneiras em que tratamos os conflitos, e quais
as melhores práticas e estas são as que se baseiam na afetividade e
no construtivismo. O Vídeo com palestra está com nome de “Mediando
Conflitos Na Escola – Telma Vinha”.
No
Brasil existem inúmeras escolas que praticam a pedagogia afetiva.
Escolas construtivistas, a Nova Escola e as Escolas Waldorf fazem
parte deste rol. Pode-se achar muitos vídeos sobre escolas com
Pedagogia Waldorf no YouTube, e matérias no site do Instituto Ruth
Salles.
As “Diretrizes Para o Programa de Escola Integral” do Estado de São Paulo apresenta o modelo pedagógico e o modelo de gestão no Programa de Ensino Integral de São Paulo que tem como visão de futuro “ser, em 2030, reconhecida internacionalmente como uma rede de ensino integral pública de excelência posicionada entre as 25 primeiras do mundo”.
[…]
a necessidade premente de repensar o atual modelo de escola e
redesenhar o papel que essa instituição deve ter para a vida e para
o desenvolvimento do jovem do século XXI. Isso implica mudanças
tanto na abordagem pedagógica, no conteúdo do currículo e na carga
horária do ensino oferecido.
A
educação proposta neste modelo tem como objetivo principal
desenvolver jovens autônomos, solidários e competentes, com
oferta de espaços de vivência para que eles próprios possam
empreender a realização das suas potencialidades pessoais e
sociais.
Para
formar o jovem idealizado (autônomo, solidário e competente) a
prática pedagógica dos educadores deve ser modificada de modo que o
jovem seja tratado como fonte de iniciativa para desenvolver
capacidade de agir, não sendo passivo no processo pedagógico.
Dentro
do currículo do Ensino Integral as disciplinas eletivas ocupam um
lugar central no que tange à diversificação das experiências
escolares, oferecendo um espaço privilegiado para a experimentação,
a interdisciplinaridade e o aprofundamento dos estudos. Por meio
delas é possível propiciar o desenvolvimento das diferentes
linguagens, plástica, verbal, matemática, gráfica e corporal, além
de proporcionar a expressão e comunicação de ideias e a
interpretação e a fruição de produções culturais.
[...]os
alunos participam da construção do seu próprio currículo;
da ampliação, da diversificação de conceitos, procedimentos ou
temáticas de uma disciplina ou área de conhecimento que não são
garantidas no espaço cotidiano disciplinar; o desenvolvimento de
projetos de acordo com os seus interesses relacionados aos seus
Projetos de Vida e/ou da comunidade a que pertencem; o
favorecimento da preparação para a futura aquisição de
capacidades específicas e de gestão para o mundo do trabalho,
dentre outras.
Tendo
em vista o incentivo à convivência e à troca de experiências, as
eletivas têm por princípio a integração de alunos dos diversos
anos/séries. No ensino fundamental podem ser agrupados alunos do 6º
e 7º anos e do 8º e 9º anos. No ensino médio podem ser
agrupados alunos das três séries.
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