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Esta
série de textos são reflexões da autora Sandra Cristina De
Carvalho Dedeschi com a orientação da Dra Telma Pileggi Vinha e
dizem respeito a resolução de diversos conflitos escolares, usando
pesquisas realizadas pela equipe de educadores da UNICAMP. O texto
completo está
em “Bilhetes
reais e/ou virtuais: uma análise construtivista da comunicação
entre escola e família”.
Uma
prática bastante comum empregada pelas instituições de ensino para
manter a comunicação com os pais é o envio de bilhetes, por meio
das agendas ou dos cadernos escolares usados pelos estudantes para
fazer as atividades em sala.
Tínhamos
uma aluna no 3o ano considerada indisciplinada, apresentando um bom
rendimento cognitivo, mas comportamentos extremamente agressivos e
uma considerável falta de limites. A diretora da escola encontrou
uma solução que, segundo suas crenças, era bastante eficaz para
conter a garota de apenas oito anos. Orientou a professora a
registrar diariamente na agenda da aluna tudo o que ela
fizesse de “errado” enquanto permanecesse na escola, pois
isso encorajaria a mãe a tomar alguma atitude em casa para mudar
aquelas posturas.
Tal
situação me inquietava (além de causar certa indignação) e fazia
com que me questionasse: Que tipo de relação vai estabelecer com
sua professora, que diariamente delata tudo o que faz? Qual a
chance de ela compreender que deve comportar-se de outra maneira?
Será que sua agressividade não pode piorar? Frequentemente, outra
queixa muito comum entre os educadores das escolas em que atuei era a
de que não adiantava mandar bilhetes para certos pais, que
apesar de assinarem a agenda, não faziam nada para resolver os
problemas comunicados.
A
forma como essa comunicação acontece realmente promove uma
parceria em prol do estudante ou somente transfere os problemas
vivenciados no espaço escolar para que os pais os resolvam em casa?
Será que o conteúdo encontrado em mensagens, reais ou virtuais,
favorece a interação entre essas instituições educativas ou trata
de terceirizar para a família conflitos de responsabilidade da
própria escola? Estariam os responsáveis preparados para esse
auxílio?
Parece-nos
que os bilhetes não são utilizados somente para informar os
familiares, uma vez que por meio deles a responsabilidade pela
solução dos problemas é transferida aos pais. Tal estratégia
acaba por reforçar a heteronomia do aluno, impossibilitando seu
envolvimento na troca de perspectivas e na busca por soluções
justas para seus conflitos.
COMO A ESCOLA LIDA COM OS CONFLITOS
Na perspectiva
tradicional, que difere da concepção construtivista, os educadores
compreendem harmonia como ausência de conflitos, uma vez que
estes são considerados como antinaturais.
Geralmente, as escolas autocráticas utilizam três tipos de mecanismos para lidar com os problemas que surgem em seus espaços.
Geralmente, as escolas autocráticas utilizam três tipos de mecanismos para lidar com os problemas que surgem em seus espaços.
O primeiro
deles é por meio
de contenção, medida usada após o conflito acontecer.
Acredita-se que ao receber uma punição, o aluno não voltará a repetir os mesmos comportamentos, por isso recorrem com muita frequência à ‘terceirização’ dos conflitos para a família ou para especialistas.
Em vez de o aluno ter a oportunidade de refletir sobre seus atos e as possíveis soluções, tem seus problemas entregues aos pais para que estes tomem as providências que julgarem cabíveis, diferente do que se espera numa visão construtivista, em que os envolvidos devem participar ativamente da busca de alternativas para resolver as situações conflituosas em que se envolvem.
Para Vinha e Mantovani de Assis (2005, p. 21) “os problemas que ocorrem no espaço escolar precisam ser considerados como parte do processo educativo, planejados e trabalhados como as outras matérias.”
Ao terceirizar o conflito para os familiares, o professor está sobrepujando o principal responsável pelo mesmo – o aluno.
Acredita-se que ao receber uma punição, o aluno não voltará a repetir os mesmos comportamentos, por isso recorrem com muita frequência à ‘terceirização’ dos conflitos para a família ou para especialistas.
Em vez de o aluno ter a oportunidade de refletir sobre seus atos e as possíveis soluções, tem seus problemas entregues aos pais para que estes tomem as providências que julgarem cabíveis, diferente do que se espera numa visão construtivista, em que os envolvidos devem participar ativamente da busca de alternativas para resolver as situações conflituosas em que se envolvem.
Para Vinha e Mantovani de Assis (2005, p. 21) “os problemas que ocorrem no espaço escolar precisam ser considerados como parte do processo educativo, planejados e trabalhados como as outras matérias.”
Ao terceirizar o conflito para os familiares, o professor está sobrepujando o principal responsável pelo mesmo – o aluno.
O segundo
se refere a
mecanismos para evitar os conflitos.
A escola, por exemplo, elabora inúmeras regras, mantém a vigilância dos adultos visando às condutas adequadas. Constata-se que frequentemente as instituições educativas criam extensos regimentos a fim de coibir os comportamentos indesejados, muitas vezes não sendo conhecidos por completo pelos próprios educadores.
Assim, quando algum tipo de problema é recorrente entre os alunos, são elaboradas normas e sanções para que seja evitado, retirando a oportunidade de aprendizagem que este pode promover.
Muitas regras e princípios aparecem misturados nesses documentos escolares, como se falar de maneira desrespeitosa com uma pessoa pudesse ser classificado da mesma forma que o fato de não comparecer a uma aula com o uniforme adequado. Deveriam ser elaboradas de modo a favorecer o desenvolvimento da autonomia moral dos estudantes e não apenas servir como instrumento de controle.
É preciso refletir se são justas e necessárias, sobre a razão delas e qual o comportamento esperado, se impostas pelas autoridades ou estabelecidas por meio de mecanismos democráticos.
Não se discute sua relevância na organização do espaço escolar; no entanto, parece-nos que muitos educadores cobram insistentemente que sejam obedecidas, mas na maioria das vezes nunca refletiram sobre sua real necessidade ou a respeito dos princípios que as regem.
A escola, por exemplo, elabora inúmeras regras, mantém a vigilância dos adultos visando às condutas adequadas. Constata-se que frequentemente as instituições educativas criam extensos regimentos a fim de coibir os comportamentos indesejados, muitas vezes não sendo conhecidos por completo pelos próprios educadores.
Assim, quando algum tipo de problema é recorrente entre os alunos, são elaboradas normas e sanções para que seja evitado, retirando a oportunidade de aprendizagem que este pode promover.
Muitas regras e princípios aparecem misturados nesses documentos escolares, como se falar de maneira desrespeitosa com uma pessoa pudesse ser classificado da mesma forma que o fato de não comparecer a uma aula com o uniforme adequado. Deveriam ser elaboradas de modo a favorecer o desenvolvimento da autonomia moral dos estudantes e não apenas servir como instrumento de controle.
É preciso refletir se são justas e necessárias, sobre a razão delas e qual o comportamento esperado, se impostas pelas autoridades ou estabelecidas por meio de mecanismos democráticos.
Não se discute sua relevância na organização do espaço escolar; no entanto, parece-nos que muitos educadores cobram insistentemente que sejam obedecidas, mas na maioria das vezes nunca refletiram sobre sua real necessidade ou a respeito dos princípios que as regem.
O terceiro
aspecto se refere ao
fato de que muitas vezes o professor ignora o conflito.
Alguns estudos (LEME, 2006; MALTA CAMPOS, 2008) indicam que o conflito entre o aluno e a autoridade (professor, funcionário, especialista) é visto como sendo de maior gravidade do que o ocorrido entre pares, o que pode acarretar na conivência com situações de bullying e maus tratos entre os iguais. Muitos educadores chegam a declarar que não passa de brincadeira ou de
desentendimentos
naturais típicos da idade, deixando que os envolvidos resolvam entre
si.
Uma intervenção é feita somente quando esse tipo de ocorrência leva a desfechos como o uso de agressão física, por exemplo, não sendo possível ignorar o fato. A escola acaba despendendo de bastante energia para lidar com os conflitos que atingem diretamente as ordens estabelecidas pela autoridade (indisciplina); entretanto, as relações entre os iguais ficam em segundo plano.
Uma intervenção é feita somente quando esse tipo de ocorrência leva a desfechos como o uso de agressão física, por exemplo, não sendo possível ignorar o fato. A escola acaba despendendo de bastante energia para lidar com os conflitos que atingem diretamente as ordens estabelecidas pela autoridade (indisciplina); entretanto, as relações entre os iguais ficam em segundo plano.
Em síntese, as
estratégias utilizadas podem ser: conter, evitar ou ignorar as
situações conflituosas no espaço escolar.
Verifica-se que, apesar de no discurso dos educadores estar presente a meta de formar pessoas assertivas, que usem o diálogo como instrumento de resolução, na prática, os conflitos não fazem parte do seu “currículo”. Diante da dificuldade de um conteúdo científico, na maioria das vezes são realizadas intervenções para o aluno superá-la. Todavia, ao deparar-se com problemas entre os alunos em suas aulas, não têm a mesma preocupação, pois não consideram como sua a responsabilidade de resolver.
Verifica-se que, apesar de no discurso dos educadores estar presente a meta de formar pessoas assertivas, que usem o diálogo como instrumento de resolução, na prática, os conflitos não fazem parte do seu “currículo”. Diante da dificuldade de um conteúdo científico, na maioria das vezes são realizadas intervenções para o aluno superá-la. Todavia, ao deparar-se com problemas entre os alunos em suas aulas, não têm a mesma preocupação, pois não consideram como sua a responsabilidade de resolver.
É fácil resolver
Tognetta
e Vinha (2008a) propõem dois tipos de estratégias que podem
ser realizadas nas escolas para favorecer o pensar e o sentir,
qualidades exclusivamente humanas. Para isso, reconhecem que as
intervenções precisam estimular a coordenação mental das ações
e trabalhar com os sentimentos de todos os personagens
envolvidos. Sugerem algumas propostas que, a longo prazo, interferem
indiretamente no problema, tornando-se ações preventivas e outras
que podem ser utilizadas nos momentos de crise.
No primeiro grupo, destacam atividades e jogos para falar de sentimentos (TOGNETTA, 2003; 2009); a realização de assembleias de classe para a discussão de problemas incentivando a busca coletiva por soluções justas e a resolução de conflitos por meio de discussão de dilemas, histórias ou filmes. Em relação às que contribuem como intervenções, quando o educador presencia o ato, apontam para a importância do uso de uma linguagem descritiva, do reconhecimento e da permissão de manifestar os sentimentos e encorajar que os sujeitos busquem rever seus atos e compreender quando houver a necessidade de agir de outra forma.
Para mais detalhes sobre linguagem descritiva veja: A ESCOLA FORA DA SALA - A IMPLANTAÇÃO DE ESCOLA INTEGRAL subtema: "Conversando com a criança"
Também: "O educador e a moralidade infantil: uma visão construtiva" É o texto original.
No primeiro grupo, destacam atividades e jogos para falar de sentimentos (TOGNETTA, 2003; 2009); a realização de assembleias de classe para a discussão de problemas incentivando a busca coletiva por soluções justas e a resolução de conflitos por meio de discussão de dilemas, histórias ou filmes. Em relação às que contribuem como intervenções, quando o educador presencia o ato, apontam para a importância do uso de uma linguagem descritiva, do reconhecimento e da permissão de manifestar os sentimentos e encorajar que os sujeitos busquem rever seus atos e compreender quando houver a necessidade de agir de outra forma.
Para mais detalhes sobre linguagem descritiva veja: A ESCOLA FORA DA SALA - A IMPLANTAÇÃO DE ESCOLA INTEGRAL subtema: "Conversando com a criança"
Também: "O educador e a moralidade infantil: uma visão construtiva" É o texto original.
O que a escola poderia fazer antes?
Auxiliar
na aprendizagem dos alunos e, ao mesmo tempo, favorecer seu
desenvolvimento sócio moral podem aparentar serem problemas
diferentes, mas não o são. Esta dissociação é equivocada, pois
são sistemas solidários, visto que os eventos de desavenças
pessoais e os de aprendizagem estão incorporados, fundem-se. A
obtenção de relações equilibradas e satisfatórias (o que não
significa que os conflitos estarão ausentes) não são frutos de um
dom gratuito ou de desenvolvimento maturacional; mas sim, decorrentes
de um processo de construção e aprendizagem.
A criança ou jovem não irá aprender por si mesmo uma questão que é muito complexa e para a qual não foram previstas boas intervenções e oferecidas situações que lhe auxiliassem a aprender o que necessita.
Porém, raramente se percebe a preocupação das instituições escolares com as possibilidades pedagógicas dos conflitos, sendo que seus esforços nesta área estão mais voltados para conseguir um “bom comportamento” do aluno (muitas vezes por medo ou conformismo) e para a contenção do conflito do que para a aprendizagem.
A criança ou jovem não irá aprender por si mesmo uma questão que é muito complexa e para a qual não foram previstas boas intervenções e oferecidas situações que lhe auxiliassem a aprender o que necessita.
Porém, raramente se percebe a preocupação das instituições escolares com as possibilidades pedagógicas dos conflitos, sendo que seus esforços nesta área estão mais voltados para conseguir um “bom comportamento” do aluno (muitas vezes por medo ou conformismo) e para a contenção do conflito do que para a aprendizagem.
Algumas
pesquisas (LEME, 2004; PEREIRA, 1998; VINHA, 2003; VINYAMATA, 1999)
indicam que o conflito pode ser um contexto construtivo, mas
também pode ser destrutivo.
Em
nossa pesquisa (TOGNETTA; VINHA, 2007; VINHA, 2003) comprovamos que,
em geral, encontram-se duas grandes concepções sobre os conflitos
interpessoais entre os educadores.
Em
uma visão tradicional, os conflitos são vistos como sendo
negativos e danosos ao bom andamento das relações entre os
alunos.
Tal
concepção evidencia-se porque os esforços são, em geral,
apontados para duas direções: a primeira delas seria
evitá-los. Para isto, elaboram-se regras
e mais regras, controlam-se os comportamentos por meio de filmadoras
ou através de vigilância sistemática dos alunos, trancam-se
armários e salas de aula para evitar furtos, ameaçam, coagem...
(Leia:
“Vigiar
para Punir” -
Michel Foucault)
A
segunda direção ainda bastante prezada pela escola é a resolução
rápida desses conflitos. Deste modo, os educadores transferem
o problema para a família ou especialista; dão as soluções
prontas; utilizam mecanismos de contenção e punições;
incentivam a delação; culpabilizam; admoestam; associam a
obediência à regra ao temor da autoridade, ao medo da punição, da
censura e da perda do afeto.
São mecanismos de controle utilizados cotidianamente na escola, que “funcionam” temporariamente, mas que, além de reforçar a heteronomia, não raro contribuem para agravar o problema.
Em longo prazo contribuem para formar jovens que possuem baixo índice de habilidade social, apresentando dificuldades para: emitir opiniões, argumentar e ouvir perspectivas diferentes sem sentir-se ameaçado; tomar decisões, expor e discutir seus sentimentos e coordenar perspectivas em ações efetivas.
São mecanismos de controle utilizados cotidianamente na escola, que “funcionam” temporariamente, mas que, além de reforçar a heteronomia, não raro contribuem para agravar o problema.
Em longo prazo contribuem para formar jovens que possuem baixo índice de habilidade social, apresentando dificuldades para: emitir opiniões, argumentar e ouvir perspectivas diferentes sem sentir-se ameaçado; tomar decisões, expor e discutir seus sentimentos e coordenar perspectivas em ações efetivas.
Os
jovens, na resolução de seus próprios conflitos empregam
mecanismos ainda primitivos tais como as reações impulsivas,
submissas ou agressivas; a não interação; as soluções
unilaterais; a mentira...
Como são privados de entender as justificativas para os valores e normas nas relações, esses jovens tendem a orientar suas ações de modo a receberem gratificações, evitarem castigos ou por mero conformismo, demonstrando que os valores morais foram pobremente interiorizados.
O fato de fazer com que um comportamento não seja mais apresentado não significa que a criança ou jovem percebeu as consequências de tal ato e está aprendendo outras formas mais elaboradas de proceder; pode significar, simplesmente, que está sob controle por temor ou por interesse.
Como nos recorda La Taille (1996, p. 10) “o aluno bem-comportado pode sê-lo por medo do castigo, por conformismo. Pouco importa: seu comportamento é tranquilo. Ele é disciplinado. Isto é desejável?”. É a “educação do presente”, que resolve, momentaneamente, o “problema” da escola.
Como são privados de entender as justificativas para os valores e normas nas relações, esses jovens tendem a orientar suas ações de modo a receberem gratificações, evitarem castigos ou por mero conformismo, demonstrando que os valores morais foram pobremente interiorizados.
O fato de fazer com que um comportamento não seja mais apresentado não significa que a criança ou jovem percebeu as consequências de tal ato e está aprendendo outras formas mais elaboradas de proceder; pode significar, simplesmente, que está sob controle por temor ou por interesse.
Como nos recorda La Taille (1996, p. 10) “o aluno bem-comportado pode sê-lo por medo do castigo, por conformismo. Pouco importa: seu comportamento é tranquilo. Ele é disciplinado. Isto é desejável?”. É a “educação do presente”, que resolve, momentaneamente, o “problema” da escola.
Conflitos são naturais e bons
Já
para o professor que possui uma perspectiva construtivista, os
conflitos são compreendidos como naturais em qualquer relação
e necessários ao desenvolvimento da criança e do jovem. São vistos
como oportunidades para que os valores e as regras sejam
trabalhados, oferecendo “pistas” sobre o que precisam aprender.
Por conseguinte, suas intervenções não enfatizam a resolução do
conflito em si, o produto, como resolver; mas sim o processo, ou
seja, a forma com que os problemas serão enfrentados, o que eles
poderão aprender com o ocorrido.
Os educadores que possuem esta concepção compreendem o conflito e sua resolução como partes importantes do “currículo” tanto quanto os outros conteúdos que devem ser trabalhados e não apenas o vendo como um problema a ser resolvido. De acordo com essa perspectiva, ao invés de o professor gastar seu tempo e energia tentando preveni-los, deve-se aproveitá-los como oportunidades para auxiliar os alunos a reconhecerem as perspectivas próprias e as dos outros e aprenderem, aos poucos, como buscar soluções aceitáveis e respeitosas para todas as partes envolvidas.
Ao agir assim, o educador demonstra reconhecer a importância de desenvolver-se nas crianças e jovens habilidades que os auxiliem na resolução de conflitos interpessoais e, consequentemente, favorecer a formação de pessoas autônomas.
Os educadores que possuem esta concepção compreendem o conflito e sua resolução como partes importantes do “currículo” tanto quanto os outros conteúdos que devem ser trabalhados e não apenas o vendo como um problema a ser resolvido. De acordo com essa perspectiva, ao invés de o professor gastar seu tempo e energia tentando preveni-los, deve-se aproveitá-los como oportunidades para auxiliar os alunos a reconhecerem as perspectivas próprias e as dos outros e aprenderem, aos poucos, como buscar soluções aceitáveis e respeitosas para todas as partes envolvidas.
Ao agir assim, o educador demonstra reconhecer a importância de desenvolver-se nas crianças e jovens habilidades que os auxiliem na resolução de conflitos interpessoais e, consequentemente, favorecer a formação de pessoas autônomas.
Por
exemplo: situações de mentira constituem-se em oportunidades para
refletir sobre a necessidade da veracidade para manter o elo de
confiança; circunstâncias em que há agressões físicas ou verbais
entre os alunos podem ser aproveitadas para trabalhar o
reconhecimento dos sentimentos e a resolução das desavenças de
forma não violenta e mais eficaz, por meio do diálogo; e assim por
diante.
O
que diz Piaget?
Piaget
concebe o conflito, tanto o que ocorre no interior do sujeito como
entre os indivíduos, como necessários ao desenvolvimento. Quando
ocorre um conflito na interação com o outro, o indivíduo é
motivado por esse desequilíbrio a refletir sobre maneiras distintas
de restabelecer a reciprocidade. Uma resolução de conflito
considerada como positiva implica em um equilíbrio entre a
capacidade de persuasão do outro e a satisfação de si mesmo, sendo
necessário para isto operar considerando os sentimentos e
perspectivas próprias e de uma outra pessoa (resolução
cooperativa).
Por reconhecer a importância de favorecer a atividade no interior do sujeito, o professor que pauta suas intervenções nessa concepção reconhece que o conflito vivido pelos alunos não lhe pertence, assim sendo, não lhe cabe resolvê-lo retirando-os do mesmo.
É
hora de chamar os pais?
Frequentemente,
o que ocorre é o contrário, ou seja, o professor retira os alunos
do controle do próprio conflito ou problema, atribuindo a si próprio
a resolução dessas situações vividas pelos alunos, dizendo-lhes o
que deve ser feito (ou induzindo) e ainda chamam os pais para
resolver.
Todavia, o fato de não solucionar por eles não é sinônimo de largá-los a própria sorte. Em situações de conflito, o educador poderá intervir explicitando o problema de tal forma que eles possam entender, ajudá-los a verbalizar seus sentimentos e desejos, promovendo uma interação, e auxiliá-los a escutar uns aos outros, convidando-os para colocar suas sugestões e propor soluções.
Todavia, o fato de não solucionar por eles não é sinônimo de largá-los a própria sorte. Em situações de conflito, o educador poderá intervir explicitando o problema de tal forma que eles possam entender, ajudá-los a verbalizar seus sentimentos e desejos, promovendo uma interação, e auxiliá-los a escutar uns aos outros, convidando-os para colocar suas sugestões e propor soluções.
Intervenções
do professor – Desastrosas ou construtivas?
O
professor auxilia o autoconhecimento quando ajuda as crianças e
jovens a refletirem sobre seus sentimentos e tendências de
reação, todavia, ele deve evitar tomar partido, falar pelos
envolvidos ou propor a resolução, estimulando-os a descreverem
por si próprios seus pontos de vista e sentimentos, favorecendo
a coordenação dos mesmos.
A escola deve ajudá-los a controlar seus impulsos, tornado-os aptos a refletir sobre as consequências de seus atos. Ressalta-se, todavia, que se os esforços do professor para mediar um atrito entre as crianças estão mostrando-se ineficientes porque elas estão bravas ou com raiva, ele pode pedir que se separem até se sentirem mais calmas, podendo escutar e falar.
A escola deve ajudá-los a controlar seus impulsos, tornado-os aptos a refletir sobre as consequências de seus atos. Ressalta-se, todavia, que se os esforços do professor para mediar um atrito entre as crianças estão mostrando-se ineficientes porque elas estão bravas ou com raiva, ele pode pedir que se separem até se sentirem mais calmas, podendo escutar e falar.
Quando
se tem a concepção de que harmonia não significa ausência de
conflitos, pois estes são situações necessárias para a
aprendizagem e que lidar com eles não é algo “desviante” da
função de educador, modificam-se, inclusive, os sentimentos diante
dos mesmos. Compreende-se que os problemas ou desavenças, por serem
naturais em qualquer relação, devem ser administrados, não
sofridos.
A angústia ou a insegurança leva o sujeito a resolvê-los rapidamente, de forma improvisada, para “livrar-se” daquilo que gera esses sentimentos, assim, muitas vezes as intervenções são autoritárias e, não raro, desastrosas.
Concebendo-os como inerentes às relações e necessários ao crescimento individual ou de um grupo, lida-se com os conflitos de forma mais serena, percebendo a necessidade de, muitas vezes, planejar o processo de resolução dos mesmos (“O que o conflito está indicando? O que os alunos precisam aprender? Como trabalhar essa questão?”), compreendendo que os procedimentos que serão empregados, as situações promovidas ou as regras que serão elaboradas não devem apenas atuar sobre as consequências de um problema, mas sim sobre as causas. Uma resolução considerada eficaz em um conflito é aquela que minimiza ou elimina as causas que o gerou.
A angústia ou a insegurança leva o sujeito a resolvê-los rapidamente, de forma improvisada, para “livrar-se” daquilo que gera esses sentimentos, assim, muitas vezes as intervenções são autoritárias e, não raro, desastrosas.
Concebendo-os como inerentes às relações e necessários ao crescimento individual ou de um grupo, lida-se com os conflitos de forma mais serena, percebendo a necessidade de, muitas vezes, planejar o processo de resolução dos mesmos (“O que o conflito está indicando? O que os alunos precisam aprender? Como trabalhar essa questão?”), compreendendo que os procedimentos que serão empregados, as situações promovidas ou as regras que serão elaboradas não devem apenas atuar sobre as consequências de um problema, mas sim sobre as causas. Uma resolução considerada eficaz em um conflito é aquela que minimiza ou elimina as causas que o gerou.
Nesse
processo, a postura do professor fará grande diferença.
Muitas vezes, a intervenção descuidada do adulto só faz com que os
educandos tentem esconder o conflito e, outras vezes, a
interferência do professor pode aumentar as hostilidades e acarretar
maiores problemas. Daí a importância de se estudar e refletir
com profundidade sobre esta dimensão das relações educativas tão
necessária para a realização de um trabalho construtivo na escola,
para minimizar a violência, para a melhoraria das interações
sociais e para um maior favorecimento do desenvolvimento sócio moral
de suas crianças e jovens.
Quem
deve resolver os conflitos?
Como
favorecer a um aluno o desenvolvimento de estratégias mais
assertivas para lidar com
seus conflitos se estes não são trabalhados na instituição
escolar, mas simplesmente terceirizados
para as famílias?
Acreditamos
que o sujeito envolvido no conflito deve ter participação ativa no
processo de resolução.
OS PAIS QUE RESOLVAM - O PROBLEMA É DELES! COMO ELES RESOLVEM?
OS PAIS QUE RESOLVAM - O PROBLEMA É DELES! COMO ELES RESOLVEM?
Segundo
Moreno e Cubero (1995) existem pais que apresentam uma postura
bastante rígida
e controladora, procurando sempre exigir o máximo possível de
seus filhos. Considerada uma educação “autoritária” provém de
adultos geralmente pouco afetuosos ou comunicativos, que utilizam de
ações rígidas. A obediência às regras estabelecidas pela
autoridade é valorizada ao extremo sem qualquer preocupação em
explicar as normas para que os filhos compreendam sua necessidade.
Diante da transgressão de alguma regra imposta, esses pais se
valem de ameaças e castigos para restabelecer a ordem. Um
ambiente familiar que se caracterize pelo excesso do autoritarismo
pode levar os educandos se tornarem indivíduos obedientes e
organizados, porém com
alto grau de timidez, de conformismo e de baixa auto estima.
Podem
ser pessoas (alunos) com dificuldades para emitir opiniões, argumentar, tomar
decisões, resolver
seus conflitos de forma satisfatória para todos, expor e discutir
seus sentimentos, demonstrando
baixo índice de habilidade social. Levados a obedecer sem entender
as justificativas
para as normas que lhes são impostas, tendem a orientar suas ações
de modo a receberem gratificações ou evitarem castigos.
Outro
tipo de educação constatado por essas duas autoras é a
“permissiva”. . .Dessa maneira, as crianças e os
adolescentes têm liberdade para fazer o que querem, o que
dificulta que os adultos exerçam o controle sobre eles. (…) tendem
a apresentar comportamentos impulsivos, a ser mais imaturos com
baixos níveis de auto estima.
Existem
ainda as famílias consideradas “negligentes”. Segundo
Reppold, Pacheco e Hutz (2005) são constituídas por pais pouco
afetuosos, mais centrados em seus próprios interesses e
necessidades,(…)
(...)a
autoridade na família serve para auxiliar seus membros mais jovens a
crescer e se preparar para a vida. Torna-se, pois, indispensável que
os pais assumam o papel de “adultos”, ou seja, a pessoa madura
da relação. Nas palavras do autor:
É
preciso compreender que o desaparecimento de toda forma de autoridade
na família não predispõe à liberdade responsável, mas a uma
forma de frágil insegurança que com os anos se refugia em formas
coletivas de autoritarismo (SAVATER, 2005, p. 69)
O
quarto tipo de educação a que se referem é a “elucidativa”
em que os adultos não deixam
de ser a autoridade, porém são participativos, mantendo relações
mais equilibradas e respeitosas com seus filhos, procurando
compreender suas necessidades e opiniões. Quando ocorrem situações
conflituosas, dão oportunidade para pensarem no problema e
incentivam a busca por condutas melhores que não acarretem prejuízos
a si mesmos nem aos outros.
Continua. . .
Na PARTE 02 os seguintes subtópicos:
- Quando
a família esta “desestruturada”, que apoio a escola terá?
- Qual
é o papel da escola afinal? E a constante crítica de que os
pais dos alunos que fracassam e não a escola?
- E
se a família não faz. . . A escola se estressa?
- Quando
a escola conversa com os pais. Como se dá esta conversa?
- Problemas
de casa e problemas de escola. Como diferenciá-los?
A
COOPERAÇÃO
Neste
subtópico considera os diversos diálogos possíveis. Com o respeito
mútuo, há agora uma nova obrigação, não apenas o respeito ao
outro, mas a exigência de ser respeitado, ou seja, de também ser
visto como alguém de valor.
- Desenvolvendo
a autonomia nas crianças. Como
ajudar o aluno a resolver por si mesmo?
- Não
resolva pelas crianças.
- A
culpa é a falta de interesse do aluno. Como
sujeitos que entram ainda tão pequenos na escola perdem o interesse
por adquirir conhecimento?
ANTES
DE CHAMAR OS PAIS PARA RECLAMAR DE SEUS FILHOS . . .
- propondo
atividades sistematizadas que
ajudem aluno a lidar com problema.
- estratégias
mais evoluídas que a escola
recorre.
regras
impostas de maneira autoritária que
devem ser revistas.
QUANDO PAIS SÃO CHAMADOS NA ESCOLA – QUE DESASTRE! - Parte 02
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